sábado, 31 de dezembro de 2011

Achados e Perdidos - Feliz 2012

Todo mundo espera que o próximo ano seja melhor. Que haja mais felicidades, mais união entre as pessoas, mais paz, mais dinheiro e prosperidade. É assim desde sempre. Então o ano inicia e as pessoas continuam infelizes. Por que isso acontece?

Se eu pudesse chutar, diria que tem a ver com o fato de que estamos todos perdidos. Perdidos de nossos sonhos e ideais, perdidos de nossos caminhos, perdidos de nós mesmos. Subestimamos nossas capacidades e dons e supervalorizamos o poder de pessoas que se dizem superiores a nós. Abaixamos a cabeça para injustiças no trabalho e nos prendemos a empregos que não têm nada a ver com a gente. Ficamos amarrados a relacionamentos que nunca vão dar certo e a gente finge não enxergar isso, porque vai doer. Recusamos convites para festas porque achamos que estamos mal vestidos ou que não temos mais tanto pique. Deixamos nossos projetos para amanhã, damos prioridades para coisas e pessoas que não são tão importantes assim, gastamos mais do que nossos bolsos comportam pelo simples motivo de ter. Mudamos nossas ideias e gostos de acordo com o que está estampado na revista semanal. E o resultado disso tudo é que nos machucamos, o tempo todo - porque estamos todos a procura de nós mesmos, mas em lugares errados, em pessoas erradas, em caminhos errados.

Por isso, além da saúde, das felicidades, da paz, do amor e do dinheiro, eu desejo que em 2012 você se encontre. Encontre o que falta em você, os pedaços que você deixou pelo caminho. Encontre seus sonhos e lute por eles, com todas as suas forças. Encontre coragem para mudar tudo aquilo que não te agrada, tudo aquilo que não te deixa dormir de noite, tudo aquilo que te mantém preso no tempo e no espaço. Encontre suas antigas promessas e as cumpra! Descubra quais são seus dons, seus talentos, suas capacidades. E, mais do que tudo, encontre você mesmo - tudo aquilo que compõe quem você é, o que você quer, o que você sonha e de onde você vem. Encontre-se!

O mundo é uma grande caixa de achados e perdidos. Existem partes de nós por todos os cantos, e em várias outras pessoas. A gente só precisa se procurar nos lugares certos.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Meia-noite

Eu me lembro quando descobri que Papai Noel não existia. Devia ter por volta de 10 anos de idade. Sempre desconfiei de que fosse apenas uma história e que na verdade eram meus pais que colocavam os presentes debaixo da árvore, então vivia questionando, até que eles acabaram confessando a farsa.

É claro que o Natal nunca mais foi o mesmo. Não havia mais a alegria de acordar no meio da madrugada e descobrir que Papai Noel me visitara. Deixou de existir aquele mistério todo - como é que ele entra aqui se a gente não tem chaminé? Será que dá pra ver ele voando no céu se eu ficar aqui olhando?

Dez anos se passaram. Sou ateu e por isso não vejo o Natal como mais do que uma festa extrema e descaradamente comercial e capitalista. Todo mundo enlouquece no Natal, fica meio esquizofrênico e faz coisas que não costuma fazer durante o resto do ano - solidariedade, união, amor ao próximo só aparecem em dezembro, e olhe lá.

Mas não é disso que eu quero falar. Que as pessoas são hipócritas, não é uma novidade, e isso não se manifesta só no Natal - convivemos com a hipocrisia o tempo todo. Eu quero falar é da magia, do quanto o Natal me fez acreditar que coisas mágicas podem acontecer de vez em quando. Seja com um presente que aparece misteriosamente debaixo da árvore, seja com a cidade que de repente ganha cores e luzes vibrantes. Coisas mágicas acontecem quando é Natal... a minha infância me fez acreditar nisso, e parece que é um pensamento que não irá embora nunca.

Apesar de não acreditar no motivo real da data, o Natal pra mim significa isso: que vale a pena esperar. Que as coisas acontecem quando a gente acredita nelas e que, de vez em quando, questionar tudo faz com que toda a graça, todos os sonhos e toda a magia se percam. Não importa se Papai Noel existe ou não, escreva uma cartinha com um desejo muito grande e acredite nela, que, se você fizer por merecer, esse pedido se tornará realidade. Essa é a verdadeira magia, esse é o verdadeiro espírito natalino, pelo menos para mim. E as magias, sejam reais ou não, na maior parte das vezes só acontecem quando a gente acredita nelas.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Metadesmorfoses

Tão longe de mim mesmo e dos lugares que eu amava, das chuvas de verão, da árvore recém-enfeitada, das bolas coloridas, das luzes, tão distante de quando bastava acreditar - hoje me pergunto para onde aqueles dias foram, em que momento, e por que se foram, e a resposta é sempre a mais simples: porque eu cresci.

Esse é geralmente o destino de todas as formas vivas: crescer. Aprendemos isso tão cedo quanto desenvolvemos a habilidade de entender o que as pessoas dizem. Coisa de gente grande. Coma seus vegetais para crescer forte. O que você vai ser quando crescer? É inevitável, todos nós nos tornamos adultos.

Mas quando exatamente isso acontece? E tem a ver com o quê? Idade, experiências, metros de altura... O que determina que devemos deixar a imprudência de lado e assumir a responsabilidade de adultos? O que nos força a abandonar certas escolhas e fazer outras mais sérias? Crescer significa mais do que adquirir pelos no rosto e uma carteira de habilitação. É mais do que deixar de assistir desenhos animados para analisar documentários, abandonar os livros de fantasia e colocar biografias em sua cabeceira. Crescer não é só a respeito dos ganhos.

Crescer é perda. Mas, além disso, crescer significa aceitar essas perdas, embora não concorde com elas. Essa é a linha que nos separa do que éramos quando tínhamos 12 anos de idade e do que nos tornamos: quando você começa a ter que engolir o choro e aceitar aquilo que não te agrada, significa que você cresceu. Porque é disso que o mundo adulto é feito: de coisas que não te agradam e que você tem de aceitar, de sapatos que machucam seus pés mas que são necessários em uma apresentação formal, de pessoas com as quais você não se identifica e no entanto tem que conviver todos os dias em seu ambiente de trabalho, de despesas que você não gostaria de ter, mas é obrigado a pagar se quiser ter uma vida no mínimo boa.

Por que algumas pessoas não crescem nunca é uma pergunta para Freud e a psicanálise. Mas, por que crescemos, nos machucamos, engolimos coisas maiores do que nossas gargantas, perdemos parte de nós mesmos e, ainda assim, continuamos inteiros? Bem, essa a ciência responde: ou nos adaptamos para sobreviver, ou estamos fora do jogo.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Areia

Todos os dias, quando você acorda, existem milhares de possibilidades te esperando do lado de fora do quarto. Você pode conhecer o amor da sua vida ou pode terminar um relacionamento. Você pode ser assaltado, ou ganhar na loteria. Não dá pra saber exatamente o que nos espera. A única certeza é que encontraremos mudanças.

Mudamos o tempo todo. Nossos sonhos, nossos caminhos. Nossas células são trocadas frequentemente. Transformamos oxigênio em gás carbônico milhares de vezes por dia. Mudamos e, mais do que isso, evoluímos. Abandonamos uma página de nossa história e avançamos para a próxima.

No entanto, é difícil lidar com as mudanças. É como ser arrancado da cama, debaixo dos cobertores quentes. Na maioria das vezes, elas vêm quando você não as espera. Como uma tempestade no meio de uma tarde ensolarada. Como uma notícia ruim às três da manhã. Como uma decepção depois de oito meses de tentativas árduas. Mudanças aparecem, mexem com todas as suas estruturas, causam náuseas, são furacões que destroem e transformam o mundo como você o conhecia em uma paisagem cheia de escombros e, acima de tudo, nova.

Quando as coisas mudam, quando o mundo parece ter virado de cabeça para baixo, quando a atmosfera se torna insuficiente e o chão desaparece, você tem duas escolhas: vasculhar o entulho à procura de coisas que se destruíram e nunca mais serão as mesmas, que nunca mais serão inteiras, que nunca mais terão o mesmo efeito... ou se levantar do local do desastre, tirar a poeira e as lágrimas das suas roupas, e andar para frente, até encontrar um solo firme e fresco, para construir coisas novas e aceitar que a mudança é, no final das contas, um lar.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Irresponsáveis

É uma frase tão famosa que se tornou clichê. É um trecho de um dos livros mais adoráveis que eu já tive a oportunidade de ler (nem preciso citar qual é). E foi uma das frases que eu mais admirava até dias atrás, quando li um texto da Martha Medeiros que fala sobre essa citação.

Soa bonito, mesmo. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Mas soa bonito quando é usado como autodefesa, quando você diz isso ou escreve nos seus status de redes sociais direcionado a alguém. "Seu irresponsável, me cativastes e deste no pé, tu te tornas responsável por aquilo que cativas, não sabes disso não?" E aí a gente sai por aí, os donos da dor.

Só que nem sempre é assim. Quando os responsáveis por algum cativado somos nós, a gente vê que não é tão poético e agradável. Nós cometemos erros, na maior parte do tempo. Dissemos coisas que nunca queríamos ter dito. Temos atitudes inadequadas e involuntárias, até. Somos irresponsáveis, mesmo sem querer. Fazemos pessoas que nos amam, e que amamos também, chorar.

Infelizmente não é algo que está em nossas mãos mudar. Enquanto seres humanos, estamos todos sujeitos a cometer erros, a pisar na bola. E isso não faz de nós monstros, isso não significa que não nos importamos com os sentimentos das pessoas, não quer dizer que não queríamos muito poder evitar essas feridas que a gente cria nos outros. Significa apenas que não dá pra ser sempre correto e que ninguém merece ser excomungado pelo próprio Saint-Exupéry o tempo todo.

Fica aqui o meu pedido de desculpas a mim mesmo e a todos aqueles que já chamei, mesmo que mentalmente, de irresponsáveis.

sábado, 29 de outubro de 2011

Sobre várias perdas e alguns ganhos*


"Tocar no passado requer cuidado, porque o passado machuca. Porque o passado não é apenas um tempo, uma conjugação verbal, um "eu era", ou "eu estava" ou "eu gostava, amava, acreditava". Não é apenas olhar para o calendário no dia 06 de fevereiro, fazer um círculo em volta da data e dizer Certo, isso aqui é o passado.
[...]

Eu podia sentir o cheiro do fim, o gosto do fim, a textura do fim, podia sentir o fim se revirando em meu estômago, estourando minhas hemáceas, se alimentando do meu sangue. Eu podia sentir as mãos frias do fim me acordando no meio da noite, apertando a minha garganta, fazendo com que eu me encolhesse na cama e chorasse como uma criança, como alguém que perdeu um ente querido, como alguém que perdeu um membro importante mas que ainda pudesse sentí-lo ali mesmo que não estivesse ali de fato, um membro-fantasma, um presente e um futuro que estavam prestes a se transformar em um passado.
E ele se transformou, sim. [...] E então eu percebi que o chão não ia sumir, que o mundo não ia acabar, que eu não ia morrer. Não, era muito pior do que isso tudo: eu ia sobreviver, com o chão ali pra eu pisar todas as manhãs, com o mundo ali para que eu encarasse girando e mudando e seguindo em frente, com a vida ali para que eu a aceitasse exatamente como ela era, sem Diogo, sem amor, sem amigos, sem esperança, sem vontade, sem sabor, sem luz, sem ar, sem saída. A gente pensa que vai morrer, mas não é tão fácil assim, a vida não deixa tão barato. A vida faz você encarar as consequencias de coisas que você fez, mesmo sem ter a intenção de fazer errado."

*Este é um trecho de algo que escrevi há um ano, no dia 27 de outubro de 2010, mais precisamente às 02:44 da manhã. Estava fuçando nos meus arquivos antigos e achei isso. É claro que não postarei o texto inteiro, além de ser grande tem um significado só pra mim, ninguém vai querer ler as outras baboseiras que estão escritas. Postei apenas este trecho aqui porque fiquei surpreso com como as coisas podem mudar e continuar iguais ao mesmo tempo, passe o tempo que passar.
Claro que não estou me referindo à mesma pessoa, citada no texto. Esse é um passado que eu superei, minha vida está em outra fase agora. Mas é incrível como meus medos são exatamente os mesmos, é incrível como o tempo é algo completamente relativo. Um ano. Pra mim não passou nenhum minuto.


sábado, 22 de outubro de 2011

"All We Can do is Keep Breathing"*

Todas as pessoas que querem nosso bem querem nos ver lutar por algo. Nossos pais querem nos ver lutando por um futuro. Nossos amigos querem que lutemos pela felicidade.
Lutar é humano, ou mais do que isso -- é biológico. Estamos lutando pela nossa sobrevivência o tempo todo.
Mas, às vezes, lutar exige forças que você descobre que não tem. Exige um tempo que você não tem a perder.
E, às vezes, alguns tipos de lutas são mais do que podemos suportar. Porque são lutas contra nossa própria mente. Contra nossos fantasmas e medos. Contra nosso cérebro e nossos nervos. Contra nosso presente, nosso futuro e, principalmente, contra nosso passado. É difícil lutar quando nosso objeto de luta somos nós mesmos. Porque lutar nem sempre significa ganhar. Muitas vezes, lutar significa perder algo, abrir mão de caminhos, de pedaços daquilo que compõe o que somos. Às vezes, lutar contra uma dor significa encontrar outras. Significa arranjar feridas incuráveis e cicatrizes eternas. Significa sofrer amputações necessárias e dolorosas.
Então simplesmente nos deitamos para observar o sol nascer e se pôr, sem lutar por nada. Deixamos que a correnteza nos afunde na água fria de um oceano de dúvidas, inseguranças e medos. Essa, às vezes, é uma boa forma de lutar: deixando estar. Porque, querendo ou não, estamos lutando por nós mesmos e pela vida enquanto estamos respirando.














*(O título é um trecho da canção "Keep Breathing", de Ingrid Michaelson)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Cenoura


Senti vontade de desistir de tudo isso, jogar tudo pro alto em um imenso foda-se, para não me expor aos danos, para não correr o risco de ver certas coisas e ouvir certas palavras, senti vontade de pedir pra você que se afaste, mas que não me esqueça, que fique longe de mim mas que pergunte para nossos amigos em comum como estou, o que tenho feito, se tenho me alimentado e se minhas notas estão boas, se eu vou conseguir passar esse ano, se eu vou conseguir passar por esse ano, por esse e por todos os próximos que carregam as lembranças e a impressão de que a vida não é tudo isso que pintam, essa alegria toda, essa dádiva toda, mas talvez seja apenas um mártir, uma dor atrás da outra e a gente vai se cansando e se sufocando e se calejando até decidir que não aguenta mais ser o cavalinho que corre atrás da cenoura pendurada na corda e corre em círculos, trombando nas árvores, quebrando a fuça, e nunca chega a saborear a cenoura de fato, porque é uma cenoura quase imaginária, uma cenoura laranja-brilhante e inalcançável atrás da qual a gente corre, corre, e acaba morrendo de fome por não conseguir alcançar nunca.


- Escrevi este texto há uns dois meses e, embora não esteja mais sentindo as coisas que descrevi no mesmo, resolvi postá-lo mesmo assim.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Rarefeito

Acordei em um dia frio e meu corpo está congelado. Não sinto meus dedos, nem minhas pernas, tampouco meu coração. Parou de bater hoje, talvez. Acordei de sonhos tristes e me pergunto onde se escondem nossas angústias enquanto dormimos. Onde ficam, à espreita, esperando por uma brecha para invadir nossos dias frios?

É humilhante a maneira como eu quase me curvo e imploro "não me machuque, não me faça mal, não quebre esse coração que te foi entregue, tenha piedade, não me deixe morrer em plena vida". É ridícula a forma como eu choro, me dobrando ao meio, pedindo que alguém me socorra.

Acordei no meu inferno astral e consultei meu horóscopo, até. Acendi um cigarro e me senti tolo. Por que a gente envenena o corpo tentando desintoxicar a alma? Acordei em um dia da cor do desespero.

Acordei em meio ao medo, ao medo de perder um chão postiço, ao medo de sentir frio para sempre, ao medo de nunca mais conseguir dormir, ao medo de sentir meu sangue se esvaindo do meu corpo, mesmo que só de maneira figurada. Afinal, quanto medo pode caber dentro da gente?

Acordei sem oxigênio, num dia rarefeito. Com uma febre de menos três graus celsius.
E me pergunto se acordei, mesmo, ou se é só mais um daqueles pesadelos que eu tenho tido ultimamente.
Me acode. Me acorde de verdade.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Bolhas

"A verdade é que se pudéssemos voltar no tempo, nunca andaríamos para frente." Li isso em algum lugar e não sei exatamente quem é o autor dessa frase tão simples e realista. Se pudéssemos voltar no tempo e reparar todos os nossos erros irreversíveis, estaríamos todos isolados, presos cada um em seu passado particular. E o que encontraríamos lá? Nada. Ninguém. Porque, em nossos passados, as pessoas que pertenceram a eles também estariam fora para correr atrás de conjugar melhor seus pretéritos imperfeitos.

Mas não é assim. Estamos todos a mercê do presente, deste exato segundo que pode mudar todo o rumo de nossas escolhas. Somos bolhas ao vento. E como não podemos mudar o passado, desenvolvemos o hábito de inventar o futuro. Chamamos isso de esperança.

Esperamos demais das pessoas. Esperamos que elas nos amem com a mesma intensidade e forma com que as amamos. Esperamos trocas que geralmente não são feitas. Esperamos ouvir certas palavras que talvez não estejam no vocabulário das outras pessoas. Esperamos por certas atitudes que são mais nossas do que dos outros. Prendemos os momentos e as coisas sem perceber que isso não os faria ficar. E no final, sofremos por geralmente não termos controle do tempo e de como as coisas acontecem em função dele.

Talvez seríamos mais felizes se não esperássemos ou esperançássemos tanto da vida. Seríamos pegos de surpresa pelo acaso (mas quem acredita em acaso hoje em dia?) Acordaríamos em uma manhã esperando ter um dia pacato e comum, e então encontraríamos um amor e isso seria inesperado. Depois, deixaríamos esse amor acontecer, simplesmente, sem esperar nada dele, como regar uma planta acreditando que seja apenas um pézinho de hortelã, e então nos surpreenderíamos quando esse amor começasse a gerar frutos grandes, brilhantes e suculentos. Seríamos felizes com as surpresas, e não sofreríamos com o fracasso das nossas meras ilusões.

No entanto, não conseguimos. Precisamos de esperança para viver, para levantar de nossas camas quentes pela manhã e encarar o que quer que esteja por vir, com a tal esperança de que venham coisas boas.
E no final de nossas esperanças, enquanto estamos machucados e soterrados pelos nossos próprios pedaços, descobrimos que é sempre possível criar novos caminhos ao acaso (será que eu acredito mesmo nisso?), novas esperanças a que se agarrar. E que há sempre um céu com estrelas (que são quantas, mesmo?) para nos mostrar nossas próprias coordenadas.


- para mim, para meu irmão-amigo-anjo Ricardo Hiro, e para todos aqueles que ainda têm esperança em qualquer coisa.

domingo, 10 de julho de 2011

Volta ou vai embora, meu amor

Estou cheio do tempo passando. Das palavras da boca pra fora. De futuros de mentirinha.
Sinto que a vida é mais do que mãos efêmeras que se soltam sem mais nem menos porque nunca tiveram o cuidado de segurar com força, com sinceridade, com alma.
Não faz sentido lutar sabendo que perderá a luta. Não faz sentido remar sabendo que o rio desagua em uma queda d'água infinita.
Já se foi o tempo em que eu entrava em veículos sem destino, apenas para rodar pela cidade: não sei me destinar a uma viagem em vão, rumo ao nada.
Há algumas coisas por trás das minhas palavras quando eu digo "eu te amo". Significa que eu penso em um futuro e que eu não aceito perder meu tempo com coisas perecíveis, com data de validade a contar tantos dias após a data de fabricação: meu amor não é um produto, meu amor não é finito, meu amor não é medido em dias.
Planeja ficar ou vai embora.
Me leva a sério ou me deixa aqui.
Eu sou um lar, não uma pousada.
Eu não sou o nada. Eu sou pra sempre.

Você não vai estar lá


Do alto de nossos medos, podemos enxergar o fim iminente. É disso que temos mais medo na vida toda - do fim.

Tememos acordar em uma manhã e descobrir que algo foi arrancado com um golpe grande, deixando apenas um grande silêncio em um pedaço da nossa existência. Mas nada dura para sempre. E com o fim, vem a dor. Como sobreviver a ela? Como passar pelas lembranças mais insignificantes sem sentir que a atmosfera está desaparecendo?

Ignoramos a dor na equação dos nossos planos, e sofremos. Porque é algo inevitável. O tempo acaba, o amor acaba. Restam apenas os pedaços que somos obrigados a carregar por um longo caminho até encontrarmos um novo começo, um ponto de partida incerto, movediço. Porque as pessoas mudam, os ambientes adaptam-se, as cores desbotam, as notas musicais se calam.

Estamos todos expostos à dor, a noites em claro sentindo a pressão sobre nossas cabeças aumentar a cada respiração, a cada segundo que um telefone não toca, a cada toque que não acontecerá novamente, a cada momento que desejamos esquecer tanto quanto queremos nos lembrar para sempre.

Mas nos esquecemos do mais óbvio: se tudo tem um fim, se nada foi feito para durar para sempre, a dor também não dura.
Dor é medida em tempo, e leva esse tempo até compreendermos que não há muito o que se pode fazer além de abandonar esses cacos pontiagudos e erguer a cabeça, deixar que as lágrimas sequem a dor e que, por fim, o sol seque as lágrimas.
Porque mudamos na dor. Crescemos. Reagimos ao frio aprendendo a nos aquecer sozinhos, a passar por ele. Precisamos da dor para sobreviver.

Assim, tudo o que vivemos hoje, um dia serão apenas lembranças - eternas, essas sim são eternas, às vezes quase vivas. Mas cabe a nós encontrar uma maneira de lidar com cada uma delas, com o fim remetido a elas, e entender que foram todos esses fins que nos fizeram chegar até aqui.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Perseguindo Carros

Tanta coisa pra dizer e a gente nunca sabe como. Tantos rabiscos na página de trás do caderno que acabam indo para o lixo em forma de folha amassada. Tanto tempo na frente do espelho, tentando olhar no fundo dos próprios olhos e entender o que se passa ali.

Mas ninguém consegue. Ninguém é capaz de compreender o que realmente precisa, quando alguma coisa faz falta dentro da gente. Tentamos preencher um espaço vazio com tardes frias de um inverno que está começando, com planos que talvez nunca se concretizem.

Queremos ser independentes e não precisar de nada ou de ninguém. Perseguir carros sem destino, sozinhos no volante e o rádio ligado bem alto. Queremos nos sentir felizes sem precisar de nada que venha de fora, nada que venha dos outros.

Mas às vezes não conseguimos e corremos em direção a uma multidão tentando nos sentir menos solitários, tentando encontrar um lugar que nos acolha quando estamos nos sentindo deslocados. Depositamos toda a nossa confiança e o nosso silêncio nas outras pessoas, esperando um retorno que talvez nunca venha.

Estamos tão desesperados procurando um lugar pra chamar de nosso, nos braços das outras pessoas, que nos esquecemos que talvez os melhores braços para nos abrigar são os nossos. Acabamos por renunciar as nossas próprias vontades, a nossa própria paz de espírito, preenchemos nosso silêncio mais autêntico com palavras que muitas vezes nem significam o que deveriam significar.

Até que nos cansamos. Começamos a perceber que uma multidão não é um abrigo, que braços não significam necessariamente abraços, que aquelas palavras não prometem nenhum tipo de segurança e que talvez seja hora de se afastar e procurar um lugar dentro de nós mesmos.

Porque, por mais triste que pareça a solidão, por mais fria que pareça uma noite sem uma voz familiar e por maior que seja a sensação de desamparo, às vezes, estamos bem quando estamos sozinhos.
____

(Ouvindo: Chasing Cars - Snow Patrol)

domingo, 24 de abril de 2011

Falta

Eu respiro tentando encontrar um resíduo de oxigênio que a sua falta me tomou.
Você me acha autocentrado, egoísta e crítico, mas você não sabe que eu penso mais em você do que em mim mesmo, às vezes, e me deixo levar pela saudade daquela época em que a gente ficava até tarde conversando, deitados naquela cama que nem era nossa, e rindo dos nossos pontos em comum e discutindo as nossas diferenças, você não sabe também que eu tenho um fascínio por muitas coisas que eu critico e uma delas é você.
É confortável dizer para todo mundo que você é convencido, que seu narcisismo tira todas as suas outras qualidades e que o tempo que a gente passou junto foi um mártir, mas eu bem sei que não é nada disso, porque às vezes quando eu me deito pra dormir eu sinto um vazio dentro de mim e sei que é você que falta ali, naquele pedacinho de mim, aquele pedacinho que quer ser meu, mas que é seu mais do que tudo.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Quase-morte

O primeiro encontro é sempre assim, aquela sensação de que seu estômago vai explodir e que todas as borboletas que estão batendo asas dentro dele vão voar pela sua boca. "Acho que eu deveria inventar uma desculpa e não ir", você pensa. Até que você o conhece.

Caramba, ele não é nada como você pensou que fosse - é bem melhor! O sorriso talvez não seja certinho e tão branco quanto os caras do comercial da Close Up White Now, mas é tão sincero que por um minuto você desvia toda a atenção para ele. Oi. Oi, tudo bem? Tudo, me desculpe pelo atraso. Não, tudo bem, acabei de chegar também (mentira, você chegou há quase uma hora e torceu para que ele não viesse mais para que você pudesse ir embora e dar paz para seus nervos.)

São várias as dúvidas sobre o primeiro beijo. Quem toma a iniciativa? Devo esperar ou será que eu mesmo posso fazer isso? Você bebe alguma coisa para lubrificar a língua, umedece os lábios depois, disfarçadamente checa o hálito. Tudo ok. Tudo pronto. E vocês se beijam, os primeiros segundos são tão engraçados, não são? Até você se adaptar com o beijo da pessoa, até vocês chegarem em um acordo silencioso de velocidade, firmeza e sincronia. Ok, assim está bom. O beijo se encaixa perfeitamente.

Quando você vê, não tem mais volta - está tomado por um sentimento maior do que você, pensa nele o tempo todo, não vê a hora de receber uma ligação, uma mensagem de texto, um e-mail, não vê a hora de vê-lo novamente. Conta para todos os seus amigos o quanto ele é incrível, até que eles se contorçam de tédio de ouvir algo que só é relevante pra você.

Nos primeiros dias é tudo azul, a vida é linda, o amor é eterno, as músicas falam por você (as boas e apaixonadas, claro), você concorda com o horóscopo (e se seu horóscopo não prevê algo positivo, você lê o horóscopo do seu ascendente, do seu signo chinês, um deles vai afirmar que é seu momento, que a vida promete as melhores sensações e sorte no amor).

Mas isso são só os primeiros dias. Depois vêm as falhas. Os questionamentos. As ligações prometidas, apenas prometidas, nunca cumpridas. As mensagens de texto sem resposta. O celular que só cai na caixa postal. Aquela pessoa estranha deixando recados suspeitos no mural do Facebook dele. Depoimentos estranhos aceitos no Orkut. As borboletas no estômago se transformam em morcegos, que se debatem febris e sugam toda sua energia e oxigênio por dentro, criando feridas, insegurança, ciumes, brigas, dor de cabeça, de barriga, falta de ar.

Você começa a morrer, lentamente.

Mas é uma quase-morte, que não chega nunca e tem seu ápice quando o relacionamento termina, por essas e outras. A quase-morte faz com que você caminhe por aí como um zumbi, tanto no emocional quanto na aparência, porque você não come mais e não dorme, ganhando palidez e olheiras gigantes. A agonia preenche seus dias, você não vê mais graça em nada e fica se perguntando o tempo todo onde ele está, o que está fazendo, será que ainda pensa em você? Você se humilha, tenta conversar, tenta estabelecer contato, implora por um pouco de atenção e carinho. Tudo em vão. Acabou. Todo o amor que ele disse que sentia acabou. Todos os planos que vocês fizeram, ou que você fez sozinho em segredo, desabaram, te soterraram.

E quando seu corpo não aguenta mais estar quase-morto, quando a dor da perda é quase insuportável, quando você pensa que é o fim da linha... você suporta. Acorda em uma manhã nova, percebe que o sol está brilhando e que há uma vida em fluxo lá fora, todinha sua, todinha cheia de oportunidades, de possibilidades.

Você ressuscita. Você está vivo de novo, por inteiro. E promete para si mesmo que nunca mais vai morrer por alguém. Porque se isso é a definição para "relacionamento", se isso é a consequência por confiar, acreditar e ser honesto, dedicado, entregue, se é disso que se trata o amor... muito obrigado, mas eu prefiro viver.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Save me

Todo mundo precisa ser salvo no meio de uma multidão, no final de uma noite úmida, numa cama que não é sua.
Todo mundo precisa ser salvo no meio de uma escuridão, em uma rua sombria, numa festa com garrafas vazias e sem balões.
Todo mundo precisa de salvação quando se sente fraco. Uma mão de apoio, um lugar no mundo, quando estamos com medo, todos precisamos de um abrigo, quando estamos invisíveis, todos nós precisamos ser vistos.
Há dias em que nos afogamos dentro de nós mesmos, que caímos de nossos próprios andares, que sentimos frio dentro dos nossos próprios braços, que corremos perigo perto de nós mesmos.
Todo mundo precisa ser salvo às vezes.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Cumplicidade

Em algum lugar que não é aqui, em outro espaço geográfico na linha do tempo-espaço está você, e eu estou lá também, e nós estamos juntos.
Amanhã vai amanhecer um dia frio, um dia em um outro espaço geográfico na linha do tempo. Você não está mais aqui e eu olho para a vida de uma maneira engraçada, porque ela se tornou irônica de repente.
Quem é você? Quem você foi esse tempo todo? Quem fomos nós naquela época?
Vejo fotos de lugares tão familiares para mim, e ao mesmo tempo hoje eles não me pertencem mais, como se isso tudo fosse outra vida, como se eu fosse outra pessoa. Um dia eu estive lá. Um dia eu fui obrigado a partir de lá, abandonar um pouco da minha alma ali, no chão do seu quarto, um pouquinho de mim no sofá da sala de decoração excêntrica, alguns farelos da minha essência no quartinho e no quintal.
Demônios são o passado que todos nós carregamos de alguma forma e eles são nossos cúmplices em momentos tentadores nas noites chuvosas, atípicas para o começo de março.
Hoje todas as coisas tomaram uma posição diferente, uma coordenada geográfica distinta, e a escolha que eu tenho é me soltar no Universo, torcendo para entrar em uma outra órbita, de algum outro Sol particular que não é mais você, que nunca foi você, que deixa de ser você todos os dias.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Maneira

Acho que encontrei uma maneira de seguir.
Não é fácil, mas é eficiente. Consiste em fingir que hoje não é hoje, que se passaram dois anos.
Consiste em mentir que se passaram vários revéillons.
Mudei o tempo ao meu redor pra mudar o tempo dentro de mim.
Como se eu estivesse em outra vida, em outro lugar.
Uma equação de erros e acertos. Equação de primeiro grau, simples, sem nada ao quadrado. Só erros + acertos + tempo. O resultado é zero.
Não estou aqui.
Feliz 2013.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Metades

Respira fundo, respira e olha para todas as coisas que você pensou que estivessem inteiras.
Elas não estão, afinal.
Tudo é metade. Meio-beijo, meio-sonho, meio-amor, meio-tempo.
Claro que você vai correr quando elas começarem a cair, mas respira fundo, respira e tenta segurar elas com as suas mãos, com seus punhos, com todas as suas forças e não corra enquanto não sentir o ar parar de entrar pela sua respiração.
Senta num canto, senta e medita, e acalma essa tempestade dentro do seu coração, abaixa essa maré da sua alma e respira fundo, respira e depois tenta com força, tenta se levantar e construir todas as outras metades, manter a paciência inteira, refazer o que está faltando.
E então, segue em frente, segue.
E me conta tudo depois.

Abismo #2

Eu estava caminhando em direção à minha vida quando você apareceu, de camiseta vermelha e um brilho nos olhos. Eu sabia que acabaríamos assim, desde o começo. Sabia que sentiríamos esse gosto.
Você se aproximou, me deu as mãos e então caminhamos, mas eu não percebi que estávamos voltando para a beirada do abismo.
Aquele abismo, que eu havia deixado há um bom tempo, aqueles pássaros negros que haviam adormecido de vez, as risadas lá embaixo que cessaram. Agora estávamos perto dele de novo, ouvíamos o silêncio, você gostava de estar comigo, eu gostava de estar com você e a gente achou que isso bastasse, mas não bastou, isso foi apenas no começo.
Depois o brilho nos seus olhos desapareceram, sua respiração se tornou pesada e eu não sabia o que fazer, nem você.
Procuramos por salvação, por uma maneira de consertar as coisas. E como não encontramos, nós pulamos.
O ar percorreu nossos corpos, entrando em nossas roupas fazendo com que inflassem, nós não falamos nada, apenas nos deixamos cair, sem se preocupar para onde nossas almas estavam indo.
Eu sabia que acabaríamos assim, desde o começo.
Sabia que sentiríamos esse gosto.
De terra.
De sangue.
De fim.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Janeiro já acabou

Por quê? eu perguntava e não encontrava a resposta.
O tempo leva embora as coisas que a gente ama e a gente só fica sentado, olhando o tempo levar, olhando tudo desabar na nossa frente, tudo aquilo que a gente acreditava ser real e concreto, tudo que a gente depositou um pouquinho de fé, e a gente chora tanto que parece que os olhos nunca mais vão conseguir enxergar direito.
Eu pedi tanto, pedi tanto pra qualquer deus ou pra qualquer alma boa que estivesse passando por perto, e no final das contas não tinha ninguém lá ouvindo, foi sempre eu e meu cochicho, foi sempre eu e minha esperança burra, foi sempre eu e tudo que eu tinha a perder e acabei perdendo de uma maneira ou de outra.
Tem hora que eu acho que eu não vou conseguir, que vai tudo começar a cair, meus cabelos, meus braços, meus dentes, meus olhos, minhas lágrimas e meu sangue, e que eu vou simplesmente desabar no chão, mas ninguém virá varrer meus cacos, eu vou ficar lá só, olhando o tempo levar tudo o que resta.
Por quê?
Mas não existe resposta.

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