sábado, 17 de agosto de 2013

Eu nunca mais vou gostar de ninguém - e outras mentiras que contamos para nós mesmos

Lembro como se fosse hoje: eu tinha 15 anos e meu primeiro namoro acabou. Eu sofri muito e jurei para mim mesmo que jamais aconteceria de novo, que eu nunca mais me apaixonaria por ninguém. Que bobagem! Depois veio outro namoro frustrado, e outro, e outro...

Não é como se pudéssemos evitar. Coisas acontecem durante a vida, boas e ruins, e na maioria das vezes não podemos evitá-las: elas chegam de surpresa, nos envolvem com os dois braços e, não tendo escolha, a gente vai com elas, segue sua correnteza, e um dia se vê em um lugar completamente diferente. Nos cinco anos que passaram desde o término do meu primeiro namorico adolescente, aconteceram tantas coisas que parece até que foi em outra vida.

Mas e se meu desejo tivesse se realizado e eu nunca mais me apaixonasse por ninguém? E se eu tivesse me isolado em um quarto, prometendo que jamais sairia de lá e me arriscaria a dar de cara com um muro de novo? E se eu não tivesse permitido que nada acontecesse comigo? A resposta é óbvia: nada teria acontecido comigo.

Li uma crônica que compara as pessoas a milhos de pipoca: reagimos ao fogo, a sentimentos intensos e transformadores. Raiva, sofrimento, amor, perdas. Tudo isso faz com que mudemos de dentro para fora, explodimos, revelamos o que somos de verdade. Há quem diga que frustrações nos deixam mais frios, mas acredito que seja completamente o oposto: elas nos colocam em movimento. Nos força a crescer, nos deixa mais calmos e sensatos, nos ensinam que é preciso caminhar com os pés no chão e não temer o fogo, mas reagir a ele, deixar que ele faça seu efeito.

Quem não se arrisca e coloca algumas coisas a perder, jamais terá algo a ganhar. A vida é movida pelos sentimentos extremos e profundos, não por cautelas irracionais e superficiais. Quanto mais nos enfiamos dentro de nós mesmos, menores são nossas chances de aproveitar o que tem aqui fora, nas ruas em que caminhamos à procura de nossos sonhos e nas pessoas pelas quais corremos o risco de nos apaixonar, e quebrar a cara, e pegar fogo e explodir.

Depois do meu último relacionamento que deu errado, apesar do sofrimento, tudo em que eu conseguia pensar era "Que venha o próximo!". E veio. E embora digam que a gente sobrevive, sou prova viva do contrário: não sobrevivi a nenhuma perda. O que eu era sempre morreu, e eu nasci de novo todas as vezes: uma versão melhor e mais forte de mim, mais resistente e, ao mesmo tempo, sedenta pelo calor que muda quem somos, todos os dias, o tempo todo.

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