sábado, 23 de janeiro de 2010

Janela Entreaberta

A janela do quarto está entreaberta e o cômodo tem um tom de cor
que não é cor, muito menos tom. É apenas sentimento - desespero.
Mas eu não me atrevo a abrir mais a janela; menos ainda a fechá-la. Não valeria a pena. Não é a cor que desespera, é a falta dela dentro dos olhos. A luz é só mera informação com ou sem intensidade. Minhas pupilas não vão reagir, nem meu coração, nem nada ao redor. Tudo continuará com a mesma não-cor do desespero.
O cachorro está deitado na porta, com seu olhar triste e seu ganido suave, e eu me pergunto o que ele consegue ver. As horas e os minutos são iguais, 18:18, mas duvido que tenha alguém pensando em mim agora. Imagino minha aura - ela provavelmente é como gelo seco escuro saindo do meu corpo. Eu não consigo ver, mas posso sentir sua densidade - é quase úmida, não chega a ser refrescante.
A não-cor aumenta conforme os minutos passam; o desespero junto. 18:23, não estão mais pensando em mim - alguma hora estiveram? - e eu me deito e cubro meu rosto com o travesseiro. Não ouço mais nada, há apenas um vulto que passa por mim, mas eu não estou enxergando afinal. Quem está aí? Ninguém responde. Nada responde.
Sonho com aqueles que estiveram comigo - amigos, devo dizer. Onde estão agora? Por que não se lembram de mim? Por que não vejo seus rostos no sonho?
Acordo com o susto, um barulho agudo e rápido; o trem. Não faz sentido o trem nesse contexto, pois não estou dentro dele indo para longe. É apenas um barulho agudo e rápido, é apenas um trem.
Continua a não-cor, o desespero, porque nada disso muda. A janela continua entreaberta. Mas não entra mais luz. São quase oito e o sol tratou de se deitar, mas quem se importa quando as pupilas não reagem?
Ainda estou deitado com o mesmo paradoxo da escuridão: o começo da noite e ao mesmo tempo o fim do dia. O que eu sou afinal?

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