terça-feira, 20 de setembro de 2011

Cenoura


Senti vontade de desistir de tudo isso, jogar tudo pro alto em um imenso foda-se, para não me expor aos danos, para não correr o risco de ver certas coisas e ouvir certas palavras, senti vontade de pedir pra você que se afaste, mas que não me esqueça, que fique longe de mim mas que pergunte para nossos amigos em comum como estou, o que tenho feito, se tenho me alimentado e se minhas notas estão boas, se eu vou conseguir passar esse ano, se eu vou conseguir passar por esse ano, por esse e por todos os próximos que carregam as lembranças e a impressão de que a vida não é tudo isso que pintam, essa alegria toda, essa dádiva toda, mas talvez seja apenas um mártir, uma dor atrás da outra e a gente vai se cansando e se sufocando e se calejando até decidir que não aguenta mais ser o cavalinho que corre atrás da cenoura pendurada na corda e corre em círculos, trombando nas árvores, quebrando a fuça, e nunca chega a saborear a cenoura de fato, porque é uma cenoura quase imaginária, uma cenoura laranja-brilhante e inalcançável atrás da qual a gente corre, corre, e acaba morrendo de fome por não conseguir alcançar nunca.


- Escrevi este texto há uns dois meses e, embora não esteja mais sentindo as coisas que descrevi no mesmo, resolvi postá-lo mesmo assim.

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