segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

As brigas que perdi

Nos ensinaram a lutar por aquilo que queremos e a nunca desistir. Por mais que as coisas continuem difíceis, por mais que você esteja derrotado, lute. No final, terá valido a pena e você terá sua recompensa. Foi assim que conseguimos a maior parte do que temos e somos. Mesmo com os tombos, fomos obrigados a aprender a andar, e se algum dia tivéssemos desistido, nunca chegaríamos longe com nossas próprias pernas. Mas no meio desse processo começamos a confundir lutar com insistir.

Insistimos demais. Em tudo. Em relacionamentos que nunca vão dar certo, e a gente sabe disso, mas continua insistindo. Em confiar em pessoas que nos decepcionaram dezenas de vezes. Em ser legais com completos idiotas. Em perder tempo tentando consertar as coisas. Em ligar. Em procurar saber e se importar. Em tentar reatar laços que na verdade nunca passaram de nós mal dados.

Insistimos tanto em querer mudar as coisas que ignoramos o fato de que talvez elas não sejam mutáveis e a única saída é simplesmente desistir. E isso fere o nosso orgulho, a nossa honra. Nos disseram que isso é fraqueza, que os fortes lutam, os fortes persistem. Eu diria que os fortes sabem quando desistir.

É preciso encarar a verdade, mesmo quando ela não é exatamente como gostaríamos que fosse. Algumas lutas simplesmente não valem a pena. São lutas perdidas e insistir nelas é inútil. É necessário abandoná-las, arquivá-las, dar-se por vencido e procurar razões melhores para lutar.

No final das contas, o que tem que ficar, fica, assim como o que tem que ir, vai. Se não te faz bem, se não preenche espaços, se não acrescenta nada, se não te traz uma vibe positiva, é sinal de que tem que ir. Abra mão daquilo que nunca foi verdadeiro. Abra mão daquilo que não te serve mais, daquilo que nunca serviu pra muita coisa. Aquilo que não te faz bem, não vai te fazer falta.

Desistir de brigas impossíveis, desgastantes e invencíveis significa lutar por si mesmo. Esta é a única coisa da qual você nunca deve desistir.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Pessoas Nada a Ver

É uma das minhas coisas favoritas para se fazer: entrar numa loja Americanas e encher a cesta de chocolates, salgadinhos, cookies e todo o tipo de guloseima que eu tiver direito. Você sai de lá se sentindo outra pessoa, cientista nenhum conseguiria explicar a descarga repentina de endorfina no sangue.

Em um desses ataques de gula e completa falta de discernimento, eu estava na fila do caixa, com a cesta cheia de gorduras saturadas e outras coisas que provavelmente entopem veias, esperando a minha vez. Como de costume, comecei a olhar a banca de revistas que fica ao lado da fila. Algum desses popstars adolescentes era capa de uma revista também adolescente (acho que era a Capricho), e a manchete dizia: "Fulano declara para nossa reportagem: Todo mundo já se apaixonou por alguém nada a ver". Me chamou a atenção.

Era dezembro, eu ainda estava namorando, mas à partir desse dia eu comecei a colocar as pessoas involuntariamente em uma lista mental de "pessoas nada a ver". Tente isso e você verá que elas estão por todas as partes. Quem nunca se apaixonou por um cara completamente incompatível? Um marmanjo com síndrome de Peter Pan? Ou um fedelho antipático, imaturo e prepotente? Quem nunca conheceu um completo babaca com mania de grandeza que acha que tem a verdade suprema sobre tudo? Quem nunca passou noites acordado por um idiota que te iludiu, te prometeu amor, e depois se interessou por alguém que não chegaria nem aos seus pés? Ou, voando ainda mais alto, quem nunca se viu fora de si por um cara comprometido que, na maior cara de pau, te ofereceu uma "amizade colorida em off"?

Pois é. Acho que todo mundo já trombou com alguém nada a ver. A gente se entrega, se apaixona, se humilha,  sofre anos por alguém que nunca vai combinar com a gente, alguém que não é nem um centésimo daquilo que você procura. Mas você está ali, tentando, dando a cara à tapa, dando murro em faca, enfiando o pé na jaca entre outras rimas que resumem uma coisa só: você se destruindo por uma pessoa nada a ver. Nada a ver com seus planos, nada a ver com o que você acredita, nada a ver com você.

E aí o relacionamento acaba -- porque relacionamentos com pessoas nada a ver eventualmente têm um fim -- e você continua insistindo em se importar, em ser amigo, em estar do lado de alguém que nunca esteve do seu lado, nunca foi seu amigo nem durante o relacionamento, depois então... pfff, esquece!

Talvez seja por isso que a gente sofre. Por tentar encontrar em alguém algo que não existe. Por esperar de moleques atitudes maduras. Por sonhar com relacionamentos duradouros e decididos com pessoas que não sabem nem que filme querem ver no cinema e deixam todas as escolhas para você. Por imaginar que algum dia o cara que te abandona numa briga no grupo de teatro da escola vá te dar apoio em alguma situação mais importante.

Pode parecer papo de livro de autoajuda, mas não é nada mais do que a realidade. A vida oferece oportunidades pra gente ver quem esteve ali o tempo todo, quem merece ficar, quem combina com nossas expectativas... e quem não tem nada a ver com nada. Essas últimas, acredite, não merecem fazer parte do seu campo de visão. Elas não têm nada a acrescentar, nada a ser aproveitado. Elas não têm nada de bom a ser visto.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Perseguindo Linhas

Linhas. Estamos cercados delas. Algumas foram feitas para serem ultrapassadas. Outras significam "perigo, não ultrapasse!". Onde quer que você vá, haverá placas e linhas te indicando algo que você não pode fazer.

Quanto mais determinada for uma linha, quanto mais proibição ela expressa, mais queremos saber o que existe do outro lado. Por que ela está aqui? Por que é proibido ultrapassá-la? Sem pensar duas vezes, quebramos uma barreira imaginária e estamos sujeitos aos riscos do outro lado da linha.

Algumas linhas não têm o menor sentido de existir. Nos disseram que era proibido, e nós acreditamos. Algumas delas, fomos nós mesmos que traçamos, por proteção, por sobrevivência, ou simplesmente pelo prazer de cruzá-las. Outras têm um motivo importante de estar ali e cruzá-las pode ser realmente perigoso.

Quando você ultrapassa uma linha, você o faz por sua conta e risco. O que está do outro lado pode ser prejudicial à sua saúde física ou mental. Pode ser algo irreversível. Às vezes pode ser mortal. Mas como resistir ao impulso de querer saber o que pode acontecer? Somos seres de sangue quente. Gostamos do desafio, gostamos da adrenalina de fazer algo proibido. E de fato o fazemos. Respiramos fundo e nos arriscamos.

Cruzar uma linha significa invadir uma propriedade privada, de vez em quando. Interferir em algo que não é seu. Invadir um território que já foi conquistado por alguém. E isso não é seguro e nem ético.

O bom das linhas é que elas não são paredes. Em alguns casos, quando as feridas são superficiais, você ainda tem a chance de correr, cruzá-las de volta ao lado seguro e permitido. Afastar-se. Seguir seu caminho até que outra linha tentadora apareça. E decidir se vale a pena cruzá-la ou não.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O último dia da sua vida


O tempo todo morrem pessoas no mundo. É um fato. Se não fosse assim, não haveria espaço e recursos para tanta gente viva. A natureza então determina isso: precisamos morrer, mais cedo ou mais tarde.

Não sou perito em estatística, mas poderia supor quase com certeza que a maioria das pessoas que morrem, morrem inesperadamente, de uma hora para a outra. Estão em seus carros em uma viagem de férias tão esperada. Estão caminhando pelas ruas até a padaria mais próxima. Assistem a algum filme no cinema. E antes mesmo que possam evitar, sofrem acidentes de trânsito, são assaltadas ou enfartam. Em alguns minutos, todos os planos, as pendências e os sentidos se foram.

Isso sempre fez com que pensássemos a respeito: e se a minha vida acabar hoje? E se eu não tiver tempo de fazer tudo que eu quero? Viva hoje como se fosse o último dia, é o que dizem por aí. Não concordo que isso seja tão fácil na prática.

Tudo na vida exige tempo. Não somos seres instantâneos, não podemos resolver todas as nossas pendências em vinte e quatro horas. A maioria delas precisa de tempo e calma. Se todo mundo levasse esse ditado ao pé da letra, provavelmente hoje realmente seria o último dia de muita gente: a vida acontece dia após dia, e a pressa seria no mínimo fatal.

Mas a verdade é que a ideia de partir e deixar algumas coisas pendentes nos assusta. Um "me desculpa" que você não disse. Uma declaração de amor que você adiou. Uma visita que você não faz à sua avó há algum tempo. Uma carta que você ainda não mandou. Um beijo que você nunca pediu. Uma ligação que você não fez. Um emprego que você não mandou para o inferno. Um DVD que você ainda não devolveu à locadora. E se eu morrer hoje e deixar todas essas pendências? Será que eu vou conseguir descansar em paz?

Precisamos de espaço para deixar as coisas acontecerem. Claro, não faço uma apologia à inércia. Mas a maioria das coisas precisa de tempo e espaço para se desenrolar. Se apressarmos a vida com medo de morrer, se acelerarmos veículos com medo de não dar tempo de chegar, se nos jogarmos de cabeça em tudo porque hoje pode ser o último dia e não dá tempo de pensar bem antes de pular, acabamos anulando os nossos dias e no intuito de resolver pendências, criamos mais e mais. Acabamos não vivendo em paz, com medo de não conseguir descansar.

Ninguém sabe quando vai morrer. Se soubéssemos, seria fácil. Deixaríamos tudo para a última hora. Resolveríamos tudo no último dia. E não aproveitaríamos ele para coisas que realmente valem a pena.

As pendências que deixamos não são por nossa culpa. A maioria delas tem a ver com o medo, e o medo não é algo que possamos controlar. Então aproveite seu tempo vivo. Respeite seus limites e não se cobre (tanto). Ame as pessoas ao seu redor e faça com que elas saibam disso. Divirta-se sempre que puder. Dê prioridade ao que vale a pena. Cuide da sua saúde, dos seus amigos, dos seus animais de estimação, dos seus pais, irmãos e avós.

Viva como se você fosse morrer, mas um dia. Não hoje.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

gravidade

Existe uma força que nos prende ao chão que nunca conseguiu segurar meus pensamentos. Sempre foi assim, desde que o planeta existe e se, por algum motivo, a gravidade sumir, tudo se desprende e se choca e provavelmente a vida seria extinta em poucas horas. Estar preso ao chão é uma questão de sobrevivência.

Mas às vezes queremos mudar isso. Damos saltos maiores do que podemos alcançar, no intuito de encontrar alguma forma de alimentar nossos dias que não esteja presa na superfície terrestre. Não gostamos da textura do chão, da realidade: fria e dura. Pulamos. Do alto dos edifícios mais altos, dos desejos mais improváveis, dos impulsos mais irresistíveis. Esticamos nossos pés, abandonamos o chão. Em um segundo estamos fora dele.

E então? Quem foi que nos ensinou a voar assim? Baseado em qual lei da física? Ninguém e nenhuma. Quando tentamos alcançar as nuvens, a primeira sensação é boa. Desafiar a gravidade. Abrir asas imaginárias e libertar-se de quem somos, das coisas que deixamos cair no chão pelo caminho. Quando tiramos os pés do chão, tudo pode acontecer.

Mas, e quando o vôo começa a se transformar em queda? E isso é inevitável. Querendo ou não, em algum momento seremos puxados de volta para a superfície, para o concreto, para o que é real. Não importa o quanto estar nas nuvens seja bom, nós não fomos criados para estar nelas. Invariavelmente caímos, de frente com o solo. Não existe pára-quedas na vida, e a queda é livre. Isso dói. Quebra nossos ossos, arranha nossa pele, sobrecarrega nosso cérebro com sinais elétricos. Ficamos imóveis por vários dias, até tudo o que existia antes se recompor.

No entanto, algumas coisas são perdidas com as quedas, e não podemos substituí-las. Será uma cicatriz, uma sequela que estará sempre ali para nos lembrar dos perigos de estar fora do chão. E alguns de nós não conseguem se recuperar nunca.

Então sonhe. Não tenha medo de querer tocar o Sol. Nossos sonhos não podem ser puxados pela gravidade. Mas não se esqueça de tirar seus sapatos, sentir o chão grudado em seus pés e agradecê-lo por estar ali.

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