sábado, 22 de junho de 2013

Só pra te ver

Só de saber que eu vou te ver, meu coração se enche de uma alegria irracional. Digo ao meu cérebro que não se apaixone de novo, peço encarecidamente que não se engane, chantageio minha consciência e barganho as horas. Tento me manter lúcido, mas não consigo.

Porque ainda existe uma curva em seu cabelo que me hipnotiza. Sua voz me tira do sério e eu quase desmaio quando você ri. Você é um vício que eu não consegui curar. Então eu invento desculpas para te ver  e me engano dizendo que não é por você, mas é.

Eu saio a quase oitenta por hora e quase ganho outra multa. Se a polícia me parar e eu explicar, talvez eles entendam. Talvez me prendam e te chamem para me salvar. Fazer isso por alguém é um crime inafiançável. Só pra te ver, eu corro o risco.

Eu volto no tempo e finjo que é janeiro. Abro a gaveta e procuro uma roupa sua. Abro a porta e procuro você. Talvez eu tenha algo para fazer hoje, mas só pra te ver, eu adio. Só pra te ver, eu paro o tempo.

Você já deixou claro em seu silêncio que acabou. Mas só pra te ver, eu finjo que não entendi. Eu te mando uma mensagem de texto só pra te ver, invento festas e roupas, visto meu melhor humor e cubro minhas mágoas. Só pra te ver. É só pra te ver.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Melhor assim

Nada que eu faça vai fazer você ficar, e hoje eu entendi que é verdade mesmo: você foi embora. Você não vai me ligar no meio da noite, desesperado, como alguém que acabou de se recuperar de uma amnésia e se lembrou de tudo de uma vez só, dizendo que sente muito, que sente minha falta. Você não vai parar um dia no meio da rua, atônito, como alguém que lembrou que esqueceu algo importante, e se perguntar "O que foi que eu fiz?". Você não vai pedir para um de seus amigos vir falar comigo. Você não vai se arrepender do que fez. Você não vai perceber que nunca encontrará ninguém melhor do que eu. Você não vai desistir de uma festa para aparecer em minha porta.

É verdade, mesmo, você foi embora. E todas essas cenas que eu imaginei, de você me ligando, me chamando para sair e conversar, me levando para sua casa, me beijando e dizendo que se arrependeu, que me ama e que foi só uma fase confusa, mas que agora está tudo bem de novo, e o Universo se tornando um lugar seguro de novo, e nós dois resolvendo tudo, eu mandando mensagens para meus amigos dizendo "Nós voltamos!", você me levando para sua cidade no final de semana e anunciando para seus amigos "Nós voltamos!", nossos status sendo atualizados no Facebook para "Em um relacionamento sério", nós dois rindo em meu carro, "Quem diria, hem?", as dificuldades que nós enfrentaríamos juntos pelos fantasmas do término - as pessoas com quem você ficou, as que te mandam mensagem no celular o dia inteiro, as brigas que tivemos em minhas crises de raiva -, o texto inspirador que eu postaria no meu blog dizendo coisas do tipo "tudo se ajeita uma hora", o sexo quente e desesperado de reconciliação, os pesadelos, a angústia, a insegurança, a felicidade e o alívio, nada disso vai acontecer, tudo isso eram apenas formas que meu cérebro inventou para lidar com meu luto.

Eu passei por todas as etapas, e quando estava a um passo da aceitação, você apareceu de novo. No meio de uma tarde de quinta-feira, em que eu não estava mais nem pensando direito em você, me disse que precisava conversar comigo. Eu me enchi de esperanças de novo, mas tudo que você queria era perguntar como estava a minha vida. Te mandei para o inferno mentalmente, e quando estava quase me curando de novo, fui parar em sua cidade. Vi você, vi os lugares em que estivemos juntos, vi seu irmão, e tudo voltou. A negação, a raiva, os cheiros, os lugares, a saudade que eu tenho de você, tão grande que eu mal consigo respirar de vez em quando, o calor do ciúme que me dá todas as vezes que eu fico sabendo que você está com alguém, o desespero de querer te ligar e não poder. Tudo isso voltou e eu passei meus dias traçando formas e planos infalíveis de voltar no tempo e mudar as coisas.

Passamos por tanta coisa. Nosso namoro era mais turbulento e sufocante do que bom. Você com sua mania de querer ser o centro das atenções, eu com a minha intolerância a comportamentos forçados. Você com suas histórias mal contadas, eu com a minha insegurança, tentando prever o que iria acontecer a cada minuto, como se isso fosse evitar o desastre iminente: mais cedo ou mais tarde, nós ruiríamos em pedaços, e foi exatamente o que aconteceu, embora da forma mais inesperada. Eu não estava preparado para lidar com um desabamento justo quando minha vida começava a se construir - o ano começando, a aprovação no vestibular, os amigos novos que começaram a aparecer. Minha segurança havia sido restaurada e quando eu pensei "Agora tudo ficará bem", você apertou o botão Destruir, dizendo "vai ser melhor assim", e tudo foi para os ares novamente.

Não foi, nem de longe, melhor assim, e você foi o ser mais egoísta do mundo quando disse isso. Seria melhor assim para você. Era o que você queria. Para correr atrás de uma antiga paixonite que te deu um merecido pé na bunda depois, ou para se ver livre e poder correr atrás de quem você quisesse, que seja. Não foi melhor assim para mim. Foi, na verdade, a pior coisa que você poderia ter feito comigo, e talvez demore para essa dor ir embora e eu voltar a ser eu de novo. No entanto, hoje eu aceitei, deixei ir, desisti de esperar o telefone tocar e você me chamar para conversar. Entendi que isso não vai acontecer nunca, que você prefere sua vida vazia de festinhas idiotas e de pegar qualquer coisa que se jogue na sua frente do que tudo que eu tinha para te dar. Esse é o seu melhor-assim, eu entendi. É triste e vai demorar para passar, mas... talvez seja melhor assim, mesmo, e eu encontre uma razão para tudo isso em outra pessoa, em outra cidade, talvez em outro tempo. Nunca se sabe.

A gente pensa que tem o controle da vida, que temos força para fazer tudo durar para sempre, mas não é assim. Uma hora a gente tem que deixar ir. Então vai. Segue seu caminho, o que você julga melhor. Aproveita toda a sua juventude, gasta todas as suas fichas nisso que você aposta ser o melhor para você. Eu vou fazer o mesmo. Vou tentar esquecer que um dia eu te conheci, e procurar um motivo melhor para levantar da cama de manhã. E quando o tempo passar e for 10 anos mais tarde, tudo isso vai ser apenas uma lembrança remota para nós dois. Nós estaremos maiores, mais experientes, mais felizes, talvez. Você não terá mais obrigação nenhuma de me salvar de nada, e eu não precisarei mais ser salvo. Essa guerra dentro de mim terá acabado, você terá sido absolvido do seu homicídio culposo. A tempestade terá ido embora, tudo fará sentido novamente para nós dois, e talvez também faça sentido o que você disse. Talvez tenha sido melhor assim. Mais cedo ou mais tarde a gente descobre.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Te esqueci

Eu te esqueci. Nem me lembro mais que um dia estivemos juntos. Não me lembro mais do seu rosto, não tenho ideia de como seja sua voz, não possuo a menor pista do que você faz durante o dia. Você disse que precisava ficar sozinho e eu tentei respeitar. No começo foi difícil, eu não te deixava em paz, te ligava todos os dias implorando para você me aceitar na sua vida, prometendo que eu não iria te atrapalhar com seus compromissos. Depois eu entendi. Aceitei o não. Me conformei com a rejeição. E te esqueci.

Esqueci seu cabelo arrepiado e do seu rosto tranquilo quando você dormia. Esqueci que você odeia frango. Esqueci quando nos conhecemos, às 4 da tarde, no dia 10 de junho de 2012. Não está mais em minha memória o número do seu celular, que é parecido com o meu. Deixei ir embora o cheiro do Carpe Diem que você usava, e do Garbe, e do seu desodorante Nivea. Não me lembro mais que você adora Ellie Golding. Não faço ideia que, de todos os lanches do McDonald’s, você prefere o mais sem graça: pão-carne-e-queijo. Deletei da minha cabeça e do meu computador as séries que assistíamos juntos - Hot in Cleveland, Once Upon a Time, Revolution.

Esqueci do cheiro de cera que tem na sua cozinha, por causa das frutas decorativas da sua mãe. Se alguém me perguntar se eu me lembro de quando você me mandava mensagens todos os dias de manhã me desejando bom dia, vou dizer que não, assim como não me lembro da sua boca rosada, dos seus olhos castanhos, do seu nariz engraçado. Não consta mais no meu cadastro mental a noite em que você passou conversando com a minha melhor amiga, que gostou tanto de você. É uma afirmação falsa em minha cabeça que nós formávamos uma dupla incrível no Imagem & Ação. Não sei mais que seu beijo é delicado, que seu toque é a materialização da palavra “carinho” e que você achava incrível colocar a mão em meu peito porque percebia que nossos corações batiam no mesmo ritmo.

Esqueci que estivemos juntos por mais de oito meses e que foi turbulento, sufocante e incrível ao mesmo tempo. Esqueci você, esqueci eu, esqueci seus amigos, sua família, sua avó que disse que me considerava um neto. Te esqueci porque achei que quando isso acontecesse, você voltaria. Esqueci e me lembro disso tudo.

A única coisa que eu não posso me esquecer é de fingir que te esqueci todos os dias.

"Só pra você saber, eu esqueci você,
E foi tão fácil te esquecer, mesmo porque isso já estava no meu plano.
Só pra você saber, eu esqueci você,
E se um dia eu te ligar de madrugada em desespero, é engano."
(Clarice Falcão - Eu esqueci você)

sábado, 15 de junho de 2013

Terceira pessoa

De todas as formas de cura, experimentou as piores. Tentou entender, acreditou em uma fé a que nem tinha direito, quebrou copos e janelas. Respirou. O fogo lambeu seus dias, queimando o que tinha de bom, e então perdeu a cabeça. Trocou os pés pelas mãos e caiu. Confundiu esperança com realidade e deu o melhor de si. Não tinha razão em uma sílaba do que estava dizendo, mas persistiu e experimentou a invisibilidade, a insignificância, a sensação de ser um fantasma. Nenhuma chamada perdida, nenhuma mensagem pendente, nenhum ciclo encerrado. O tempo se repetiu em suas piores dimensões, curvando o espaço em um sorriso triste, em um aceno de adeus fictício. Os chocolates foram digeridos automaticamente, sem trabalho, sem emoção, junto com os beijos que não eram seus, liberando endorfinas efêmeras e frágeis. Meia hora depois e a saliva tinha o mesmo gosto, sem nenhum amor para intervir. Correu  para os braços de mil pessoas e substituiu os meses com horas vazias, sem uma ponta de culpa por trocar o certo pelo duvidoso. Cigarros foram acesos, sem fazer questão de esconder isso de ninguém. Manhãs esperando o correio trazer alguma encomenda de otimismo e nostalgia foram gastas em um quarto que não era seu. Os peixes morreram, o aquário foi vendido, os jogos foram vencidos. As panquecas ingeridas na casa de amigos meses antes ainda não haviam sido digeridas. O telefone não tocou. Nenhuma vez.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Cadeia do Amor

Festa junina é uma das tradições mais bacanas do nosso país, tanto pela comida quanto pelas danças e brincadeiras. Confirmei isso ao observar o brilho nos olhos dos estrangeiros que estão na minha faculdade. Um deles me perguntou, em uma das vezes em que fui preso na cadeia do amor, com um sotaque engraçado: "Como funciona isso?" Eu expliquei que você tinha que beijar alguém para sair ou pagar, e ele comentou "Que loucura!"

Ele acabou beijando uma garota que também estava presa, e eu fiquei sozinho na cadeia do amor. Em três das cinco vezes em que fui preso, ninguém apareceu para me tirar de lá. Provavelmente era alguém fazendo alguma brincadeira, mas me fez pensar: não é o que acontece o tempo todo, na vida de todo mundo? Alguém te prende e então te deixa lá sozinho, esperando para ser salvo? Você pode passar horas, dias, meses esperando que alguém te tire de uma prisão que ele mesmo te colocou, e no final ninguém aparece. Você tem que pagar para sair o dobro do que pagaram para te prender. O seu prejuízo é maior do que o de quem pagou muito barato para te colocar lá dentro e não deu as caras depois.

De todas as pessoas que foram presas comigo, havia apenas uma que eu gostaria que me salvasse da prisão mental em que ele mesmo me colocou. Mas eu sabia que isso não iria acontecer. Sabia que ele não estava lá por mim, e ele acabou pagando para sair. Ofereceu para me ajudar a sair, pagando para mim também, mas eu recusei. Quem me colocou ali que aparecesse para me salvar. E então eu percebi: às vezes ninguém vai aparecer, às vezes quem você acha que vai te salvar sai antes disso, e de certa forma, na maioria das vezes, você tem que salvar você mesmo, e tirar de si para sair de algo que, para quem te colocou lá por todo esse tempo, foi apenas uma brincadeira.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Tudo que eu podia ter feito

Sou um grande fã de Grey's Anatomy. Desde que comecei a ver a série, se transformou em um tipo de vício, e eu acabei comprando todos os boxes e uma camiseta, e entrei em uma equipe de legendagem só para poder traduzir os episódios. Não é tão fácil quanto parece: a série é cheia de jargões médicos, é óbvio. Sempre requer várias pesquisas para conseguir traduzir alguns termos. No entanto, há uma frase atribuída a cirurgiões que não deixa de fazer parte do dialeto coloquial todos nós, e a tradução dela é simples em qualquer contexto - quando um médico realiza todos os protocolos para salvar um paciente, corta aqui, emenda ali e mesmo assim o paciente não resiste e morre, é dito aos seus familiares: "Fizemos tudo que podíamos."

Quem já deu tudo de si por algo sabe do que eu estou falando. Horas e horas preenchidas de tentativas frustradas de fazer o impossível: reverter o estágio terminal de algo que estava prestes a morrer; horas inúteis tentando fazer um coração voltar a bater. Então você faz exatamente como os cirurgiões: corta aqui, emenda ali, liga, manda mensagens, conversa, tenta entender, tenta fazer entender. Perde noites de sono tentando encontrar uma forma de evitar o pior: o fim de algo que já está condenado há muito tempo e que não tem cura. Era só uma questão de tempo.

Todos nós somos movidos por algo que gostamos chamar de esperança, independente de tudo que nos faz acreditar que não há mais nenhuma. É o que nos faz lutar por causas que parecem invencíveis, nos arriscar mesmo sabendo que as chances de sucesso são tão pequenas que são quase inexistentes, jogar todas as nossas fichas em apostas duvidosas, tratar situações intratáveis. A esperança nos faz ignorar o óbvio e seguir nossos instintos, que nem sempre estão certos, mas mais do que qualquer coisa, são nossos. Então a gente luta, tenta o nosso melhor, faz tudo que pode. Até que um dia, depois de tudo, até mesmo a esperança morre e é feito outro anúncio: "Hora da morte: 20:10".

Como um cirurgião que tem que encarar o ente querido de um paciente para dar a notícia, é preciso ter coragem para encarar a si mesmo e anunciar: "Fizemos tudo que podíamos". É algo deveras triste de declarar, mas é necessário, e funciona como um álibi que evitará a culpa posterior por não ter tentado. Só assim quem ainda continua vivo pode tentar superar a perda e, mais cedo ou mais tarde, estar pronto para seguir com a própria vida, triste pela ausência, mas com a consciência limpa por ter feito tudo que podia ter feito. E o resto é com o tempo. Não depende mais de ninguém.

domingo, 2 de junho de 2013

I remember it all too well

Tempo. Foi tudo pelo que eu esperei. Todo mundo diz isso, como se fosse uma fórmula mágica: espere o tempo passar. O tempo cura. O tempo é o melhor remédio. Daqui a alguns dias vai passar, você vai ver. Concentre-se em outras coisas, ocupe sua cabeça, estude. Dê tempo ao tempo. E foi assim que eu risquei os dias no calendário um a um, acreditando que quanto mais os dias passassem, mais eu iria me distanciar daquele momento em que você decidiu seguir sozinho. Funcionou. Um dia, quando falaram seu nome perto de mim, tudo que eu senti foi um leve formigamento na garganta; eu engoli e passou.

Então eu ouvi seu nome ser pronunciado por alguém ao telefone naquela noite. Eu estava de novo na cidade onde muita coisa aconteceu. Eu passei pelas mesmas ruas, eu senti o cheiro da fábrica de café, eu voltei no tempo e deveria ser premiado por essa proeza da física. Foi como se nada tivesse acontecido. Foi como se ver você ali e te beijar fosse a coisa mais óbvia do mundo. Se eu fechasse os olhos, conseguiria convencer a mim mesmo que era fim de ano e você estava ali pintado de tinta neon. Consegui ver a gente almoçando em uma das mesas do shopping. Senti o cheiro da tequila misturado ao seu perfume. Ouvi sua amiga rindo. Foi tudo tão real e forte que destruiu toda a defesa que eu havia criado.

É engraçado como a gente pensa que as coisas estão mortas, até elas se mexerem dentro da gente. Eu morri várias vezes e continuo vivo, respondendo para mim mesmo um dos maiores questionamentos da humanidade: há vida após a morte? Há. E desde então, eu tenho tentado montar um quebra-cabeças confuso, com peças faltando e quando, mesmo assim, ele começa a fazer sentido, você aparece e rouba mais uma dúzia de peças. Você me liga para saber como eu estou. Você aparece na casa de um amigo e me abraça por muito mais tempo do que eu deveria, que não é nem um décimo do tempo que eu precisava. E eu vou e desenho novas peças, invento padrões que se encaixem, recorto com cuidado e tento colar nos espaços vazios do quebra-cabeça, e no final das contas tudo que eu tenho é uma figura inexata e surreal do que nós somos, ou fomos um dia.

Algumas coisas não ficaram claras, nem pra mim, nem para você. Uma tonelada de coisas preencheram nossas bagagens durante esses meses, coisas que eu disse sem querer, pessoas que apareceram e dificultaram tudo. Eu, em tão pouco tempo, consegui criar uma versão de mim mesmo que eu nem conhecia, uma pessoa que fala coisas que não deve e se suicida socialmente por acreditar que nada mais tem perigo, que o pior que poderia ter acontecido já passou, que a força que eu criei deveria ser usada para me defender. Eu me joguei das pontes mais altas com o carro em movimento. Eu movi montanhas pesadas e machuquei meus braços. Eu expus um lado tão íntimo que nem você conhecia. Minha consciência se resumiu a esta perda, e eu acreditei que não tinha absolutamente mais nada a perder.

Eu tinha um milhão de motivos para não escrever este texto, e outro milhão para não publicá-lo. E o único motivo que eu tinha para que ele estivesse aqui venceu: o tempo. Justamente ele, que cura. Mas eu descobri algo sobre o tempo que ninguém te diz quando te sugere que deixe o tempo passar: ele deixa as coisas maiores. Ele transforma fogo em cinzas, rochas em areia, pequenos em gigantes. É só isso que o tempo faz e é só isso que o tempo fez comigo: me transformou, e converteu toda a dor que eu sentia em uma armadura pesada que eu não consigo mais carregar.

Se eu pudesse mudar as coisas e escrever minha própria história, você estaria aqui, e nós lutaríamos contra tudo isso, daríamos um jeito de suportar a carga inicial de tempo, até que ele se dissolvesse, até que pudéssemos seguir de onde paramos, ou de onde deveríamos ter começado. Eu ligaria para você agora e diria todas as bobagens em que eu tenho pensado, e você ficaria feliz em saber delas. As pessoas ficariam impressionadas com a nossa força, e talvez até se inspirassem em nós. E eu desistiria dessa pessoa que eu virei, a entregaria para um personagem de um dos livros que eu tento escrever, e nada no mundo me faria mais feliz.

"And I know it's long gone and magic is not here no more
And I might be okay, but I'm not fine at all.
'Cause there we are again on that little town street,
You almost ran the red 'cause you were looking over me
Wind in my hair, I was there, I remember it all too well"
(All too well - Taylor Swift)

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