terça-feira, 18 de junho de 2013

Melhor assim

Nada que eu faça vai fazer você ficar, e hoje eu entendi que é verdade mesmo: você foi embora. Você não vai me ligar no meio da noite, desesperado, como alguém que acabou de se recuperar de uma amnésia e se lembrou de tudo de uma vez só, dizendo que sente muito, que sente minha falta. Você não vai parar um dia no meio da rua, atônito, como alguém que lembrou que esqueceu algo importante, e se perguntar "O que foi que eu fiz?". Você não vai pedir para um de seus amigos vir falar comigo. Você não vai se arrepender do que fez. Você não vai perceber que nunca encontrará ninguém melhor do que eu. Você não vai desistir de uma festa para aparecer em minha porta.

É verdade, mesmo, você foi embora. E todas essas cenas que eu imaginei, de você me ligando, me chamando para sair e conversar, me levando para sua casa, me beijando e dizendo que se arrependeu, que me ama e que foi só uma fase confusa, mas que agora está tudo bem de novo, e o Universo se tornando um lugar seguro de novo, e nós dois resolvendo tudo, eu mandando mensagens para meus amigos dizendo "Nós voltamos!", você me levando para sua cidade no final de semana e anunciando para seus amigos "Nós voltamos!", nossos status sendo atualizados no Facebook para "Em um relacionamento sério", nós dois rindo em meu carro, "Quem diria, hem?", as dificuldades que nós enfrentaríamos juntos pelos fantasmas do término - as pessoas com quem você ficou, as que te mandam mensagem no celular o dia inteiro, as brigas que tivemos em minhas crises de raiva -, o texto inspirador que eu postaria no meu blog dizendo coisas do tipo "tudo se ajeita uma hora", o sexo quente e desesperado de reconciliação, os pesadelos, a angústia, a insegurança, a felicidade e o alívio, nada disso vai acontecer, tudo isso eram apenas formas que meu cérebro inventou para lidar com meu luto.

Eu passei por todas as etapas, e quando estava a um passo da aceitação, você apareceu de novo. No meio de uma tarde de quinta-feira, em que eu não estava mais nem pensando direito em você, me disse que precisava conversar comigo. Eu me enchi de esperanças de novo, mas tudo que você queria era perguntar como estava a minha vida. Te mandei para o inferno mentalmente, e quando estava quase me curando de novo, fui parar em sua cidade. Vi você, vi os lugares em que estivemos juntos, vi seu irmão, e tudo voltou. A negação, a raiva, os cheiros, os lugares, a saudade que eu tenho de você, tão grande que eu mal consigo respirar de vez em quando, o calor do ciúme que me dá todas as vezes que eu fico sabendo que você está com alguém, o desespero de querer te ligar e não poder. Tudo isso voltou e eu passei meus dias traçando formas e planos infalíveis de voltar no tempo e mudar as coisas.

Passamos por tanta coisa. Nosso namoro era mais turbulento e sufocante do que bom. Você com sua mania de querer ser o centro das atenções, eu com a minha intolerância a comportamentos forçados. Você com suas histórias mal contadas, eu com a minha insegurança, tentando prever o que iria acontecer a cada minuto, como se isso fosse evitar o desastre iminente: mais cedo ou mais tarde, nós ruiríamos em pedaços, e foi exatamente o que aconteceu, embora da forma mais inesperada. Eu não estava preparado para lidar com um desabamento justo quando minha vida começava a se construir - o ano começando, a aprovação no vestibular, os amigos novos que começaram a aparecer. Minha segurança havia sido restaurada e quando eu pensei "Agora tudo ficará bem", você apertou o botão Destruir, dizendo "vai ser melhor assim", e tudo foi para os ares novamente.

Não foi, nem de longe, melhor assim, e você foi o ser mais egoísta do mundo quando disse isso. Seria melhor assim para você. Era o que você queria. Para correr atrás de uma antiga paixonite que te deu um merecido pé na bunda depois, ou para se ver livre e poder correr atrás de quem você quisesse, que seja. Não foi melhor assim para mim. Foi, na verdade, a pior coisa que você poderia ter feito comigo, e talvez demore para essa dor ir embora e eu voltar a ser eu de novo. No entanto, hoje eu aceitei, deixei ir, desisti de esperar o telefone tocar e você me chamar para conversar. Entendi que isso não vai acontecer nunca, que você prefere sua vida vazia de festinhas idiotas e de pegar qualquer coisa que se jogue na sua frente do que tudo que eu tinha para te dar. Esse é o seu melhor-assim, eu entendi. É triste e vai demorar para passar, mas... talvez seja melhor assim, mesmo, e eu encontre uma razão para tudo isso em outra pessoa, em outra cidade, talvez em outro tempo. Nunca se sabe.

A gente pensa que tem o controle da vida, que temos força para fazer tudo durar para sempre, mas não é assim. Uma hora a gente tem que deixar ir. Então vai. Segue seu caminho, o que você julga melhor. Aproveita toda a sua juventude, gasta todas as suas fichas nisso que você aposta ser o melhor para você. Eu vou fazer o mesmo. Vou tentar esquecer que um dia eu te conheci, e procurar um motivo melhor para levantar da cama de manhã. E quando o tempo passar e for 10 anos mais tarde, tudo isso vai ser apenas uma lembrança remota para nós dois. Nós estaremos maiores, mais experientes, mais felizes, talvez. Você não terá mais obrigação nenhuma de me salvar de nada, e eu não precisarei mais ser salvo. Essa guerra dentro de mim terá acabado, você terá sido absolvido do seu homicídio culposo. A tempestade terá ido embora, tudo fará sentido novamente para nós dois, e talvez também faça sentido o que você disse. Talvez tenha sido melhor assim. Mais cedo ou mais tarde a gente descobre.

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