sábado, 15 de junho de 2013

Terceira pessoa

De todas as formas de cura, experimentou as piores. Tentou entender, acreditou em uma fé a que nem tinha direito, quebrou copos e janelas. Respirou. O fogo lambeu seus dias, queimando o que tinha de bom, e então perdeu a cabeça. Trocou os pés pelas mãos e caiu. Confundiu esperança com realidade e deu o melhor de si. Não tinha razão em uma sílaba do que estava dizendo, mas persistiu e experimentou a invisibilidade, a insignificância, a sensação de ser um fantasma. Nenhuma chamada perdida, nenhuma mensagem pendente, nenhum ciclo encerrado. O tempo se repetiu em suas piores dimensões, curvando o espaço em um sorriso triste, em um aceno de adeus fictício. Os chocolates foram digeridos automaticamente, sem trabalho, sem emoção, junto com os beijos que não eram seus, liberando endorfinas efêmeras e frágeis. Meia hora depois e a saliva tinha o mesmo gosto, sem nenhum amor para intervir. Correu  para os braços de mil pessoas e substituiu os meses com horas vazias, sem uma ponta de culpa por trocar o certo pelo duvidoso. Cigarros foram acesos, sem fazer questão de esconder isso de ninguém. Manhãs esperando o correio trazer alguma encomenda de otimismo e nostalgia foram gastas em um quarto que não era seu. Os peixes morreram, o aquário foi vendido, os jogos foram vencidos. As panquecas ingeridas na casa de amigos meses antes ainda não haviam sido digeridas. O telefone não tocou. Nenhuma vez.

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