sexta-feira, 29 de abril de 2011

Perseguindo Carros

Tanta coisa pra dizer e a gente nunca sabe como. Tantos rabiscos na página de trás do caderno que acabam indo para o lixo em forma de folha amassada. Tanto tempo na frente do espelho, tentando olhar no fundo dos próprios olhos e entender o que se passa ali.

Mas ninguém consegue. Ninguém é capaz de compreender o que realmente precisa, quando alguma coisa faz falta dentro da gente. Tentamos preencher um espaço vazio com tardes frias de um inverno que está começando, com planos que talvez nunca se concretizem.

Queremos ser independentes e não precisar de nada ou de ninguém. Perseguir carros sem destino, sozinhos no volante e o rádio ligado bem alto. Queremos nos sentir felizes sem precisar de nada que venha de fora, nada que venha dos outros.

Mas às vezes não conseguimos e corremos em direção a uma multidão tentando nos sentir menos solitários, tentando encontrar um lugar que nos acolha quando estamos nos sentindo deslocados. Depositamos toda a nossa confiança e o nosso silêncio nas outras pessoas, esperando um retorno que talvez nunca venha.

Estamos tão desesperados procurando um lugar pra chamar de nosso, nos braços das outras pessoas, que nos esquecemos que talvez os melhores braços para nos abrigar são os nossos. Acabamos por renunciar as nossas próprias vontades, a nossa própria paz de espírito, preenchemos nosso silêncio mais autêntico com palavras que muitas vezes nem significam o que deveriam significar.

Até que nos cansamos. Começamos a perceber que uma multidão não é um abrigo, que braços não significam necessariamente abraços, que aquelas palavras não prometem nenhum tipo de segurança e que talvez seja hora de se afastar e procurar um lugar dentro de nós mesmos.

Porque, por mais triste que pareça a solidão, por mais fria que pareça uma noite sem uma voz familiar e por maior que seja a sensação de desamparo, às vezes, estamos bem quando estamos sozinhos.
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(Ouvindo: Chasing Cars - Snow Patrol)

domingo, 24 de abril de 2011

Falta

Eu respiro tentando encontrar um resíduo de oxigênio que a sua falta me tomou.
Você me acha autocentrado, egoísta e crítico, mas você não sabe que eu penso mais em você do que em mim mesmo, às vezes, e me deixo levar pela saudade daquela época em que a gente ficava até tarde conversando, deitados naquela cama que nem era nossa, e rindo dos nossos pontos em comum e discutindo as nossas diferenças, você não sabe também que eu tenho um fascínio por muitas coisas que eu critico e uma delas é você.
É confortável dizer para todo mundo que você é convencido, que seu narcisismo tira todas as suas outras qualidades e que o tempo que a gente passou junto foi um mártir, mas eu bem sei que não é nada disso, porque às vezes quando eu me deito pra dormir eu sinto um vazio dentro de mim e sei que é você que falta ali, naquele pedacinho de mim, aquele pedacinho que quer ser meu, mas que é seu mais do que tudo.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Quase-morte

O primeiro encontro é sempre assim, aquela sensação de que seu estômago vai explodir e que todas as borboletas que estão batendo asas dentro dele vão voar pela sua boca. "Acho que eu deveria inventar uma desculpa e não ir", você pensa. Até que você o conhece.

Caramba, ele não é nada como você pensou que fosse - é bem melhor! O sorriso talvez não seja certinho e tão branco quanto os caras do comercial da Close Up White Now, mas é tão sincero que por um minuto você desvia toda a atenção para ele. Oi. Oi, tudo bem? Tudo, me desculpe pelo atraso. Não, tudo bem, acabei de chegar também (mentira, você chegou há quase uma hora e torceu para que ele não viesse mais para que você pudesse ir embora e dar paz para seus nervos.)

São várias as dúvidas sobre o primeiro beijo. Quem toma a iniciativa? Devo esperar ou será que eu mesmo posso fazer isso? Você bebe alguma coisa para lubrificar a língua, umedece os lábios depois, disfarçadamente checa o hálito. Tudo ok. Tudo pronto. E vocês se beijam, os primeiros segundos são tão engraçados, não são? Até você se adaptar com o beijo da pessoa, até vocês chegarem em um acordo silencioso de velocidade, firmeza e sincronia. Ok, assim está bom. O beijo se encaixa perfeitamente.

Quando você vê, não tem mais volta - está tomado por um sentimento maior do que você, pensa nele o tempo todo, não vê a hora de receber uma ligação, uma mensagem de texto, um e-mail, não vê a hora de vê-lo novamente. Conta para todos os seus amigos o quanto ele é incrível, até que eles se contorçam de tédio de ouvir algo que só é relevante pra você.

Nos primeiros dias é tudo azul, a vida é linda, o amor é eterno, as músicas falam por você (as boas e apaixonadas, claro), você concorda com o horóscopo (e se seu horóscopo não prevê algo positivo, você lê o horóscopo do seu ascendente, do seu signo chinês, um deles vai afirmar que é seu momento, que a vida promete as melhores sensações e sorte no amor).

Mas isso são só os primeiros dias. Depois vêm as falhas. Os questionamentos. As ligações prometidas, apenas prometidas, nunca cumpridas. As mensagens de texto sem resposta. O celular que só cai na caixa postal. Aquela pessoa estranha deixando recados suspeitos no mural do Facebook dele. Depoimentos estranhos aceitos no Orkut. As borboletas no estômago se transformam em morcegos, que se debatem febris e sugam toda sua energia e oxigênio por dentro, criando feridas, insegurança, ciumes, brigas, dor de cabeça, de barriga, falta de ar.

Você começa a morrer, lentamente.

Mas é uma quase-morte, que não chega nunca e tem seu ápice quando o relacionamento termina, por essas e outras. A quase-morte faz com que você caminhe por aí como um zumbi, tanto no emocional quanto na aparência, porque você não come mais e não dorme, ganhando palidez e olheiras gigantes. A agonia preenche seus dias, você não vê mais graça em nada e fica se perguntando o tempo todo onde ele está, o que está fazendo, será que ainda pensa em você? Você se humilha, tenta conversar, tenta estabelecer contato, implora por um pouco de atenção e carinho. Tudo em vão. Acabou. Todo o amor que ele disse que sentia acabou. Todos os planos que vocês fizeram, ou que você fez sozinho em segredo, desabaram, te soterraram.

E quando seu corpo não aguenta mais estar quase-morto, quando a dor da perda é quase insuportável, quando você pensa que é o fim da linha... você suporta. Acorda em uma manhã nova, percebe que o sol está brilhando e que há uma vida em fluxo lá fora, todinha sua, todinha cheia de oportunidades, de possibilidades.

Você ressuscita. Você está vivo de novo, por inteiro. E promete para si mesmo que nunca mais vai morrer por alguém. Porque se isso é a definição para "relacionamento", se isso é a consequência por confiar, acreditar e ser honesto, dedicado, entregue, se é disso que se trata o amor... muito obrigado, mas eu prefiro viver.

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