sexta-feira, 29 de abril de 2011

Perseguindo Carros

Tanta coisa pra dizer e a gente nunca sabe como. Tantos rabiscos na página de trás do caderno que acabam indo para o lixo em forma de folha amassada. Tanto tempo na frente do espelho, tentando olhar no fundo dos próprios olhos e entender o que se passa ali.

Mas ninguém consegue. Ninguém é capaz de compreender o que realmente precisa, quando alguma coisa faz falta dentro da gente. Tentamos preencher um espaço vazio com tardes frias de um inverno que está começando, com planos que talvez nunca se concretizem.

Queremos ser independentes e não precisar de nada ou de ninguém. Perseguir carros sem destino, sozinhos no volante e o rádio ligado bem alto. Queremos nos sentir felizes sem precisar de nada que venha de fora, nada que venha dos outros.

Mas às vezes não conseguimos e corremos em direção a uma multidão tentando nos sentir menos solitários, tentando encontrar um lugar que nos acolha quando estamos nos sentindo deslocados. Depositamos toda a nossa confiança e o nosso silêncio nas outras pessoas, esperando um retorno que talvez nunca venha.

Estamos tão desesperados procurando um lugar pra chamar de nosso, nos braços das outras pessoas, que nos esquecemos que talvez os melhores braços para nos abrigar são os nossos. Acabamos por renunciar as nossas próprias vontades, a nossa própria paz de espírito, preenchemos nosso silêncio mais autêntico com palavras que muitas vezes nem significam o que deveriam significar.

Até que nos cansamos. Começamos a perceber que uma multidão não é um abrigo, que braços não significam necessariamente abraços, que aquelas palavras não prometem nenhum tipo de segurança e que talvez seja hora de se afastar e procurar um lugar dentro de nós mesmos.

Porque, por mais triste que pareça a solidão, por mais fria que pareça uma noite sem uma voz familiar e por maior que seja a sensação de desamparo, às vezes, estamos bem quando estamos sozinhos.
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(Ouvindo: Chasing Cars - Snow Patrol)

4 comentários:

universorelativo disse...

finalmente um post, tava com saudade, bjos amore

De Mattos disse...

É sempre muito bom poder dividir alegrias ou tristezas,dúvidas ou certezas com pessoas queridas; seja um familiar, um amigo, um companheiro ou alguém que esteja disposto a ouvir e compartilhar (coisas raríssimas nos dias de hoje). Mas antes de desfrutar do prazer dessas agradáveis companhias, devemos aprender a gostar da nossa própria companhia - essa é a única que irá de fato nos acompanhar para sempre.
O ser humano é carente e é um ser social, mas estar só em alguns momentos não significa solidão. Pode ser uma oportunidade para entrar em contato com os próprios sentimentos e buscar o autoconhecimento.
Abraço!

Lê Fernands disse...

quando transformamos a solidão em solitude, temos uam grata companhia: nós mesmos!


bjsmeus

Verônica Heiss disse...

essa última frase resumiu muita coisa. sentir-se só às vezes é necessário pra gostar de si mesmo (:

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