quarta-feira, 20 de abril de 2011

Quase-morte

O primeiro encontro é sempre assim, aquela sensação de que seu estômago vai explodir e que todas as borboletas que estão batendo asas dentro dele vão voar pela sua boca. "Acho que eu deveria inventar uma desculpa e não ir", você pensa. Até que você o conhece.

Caramba, ele não é nada como você pensou que fosse - é bem melhor! O sorriso talvez não seja certinho e tão branco quanto os caras do comercial da Close Up White Now, mas é tão sincero que por um minuto você desvia toda a atenção para ele. Oi. Oi, tudo bem? Tudo, me desculpe pelo atraso. Não, tudo bem, acabei de chegar também (mentira, você chegou há quase uma hora e torceu para que ele não viesse mais para que você pudesse ir embora e dar paz para seus nervos.)

São várias as dúvidas sobre o primeiro beijo. Quem toma a iniciativa? Devo esperar ou será que eu mesmo posso fazer isso? Você bebe alguma coisa para lubrificar a língua, umedece os lábios depois, disfarçadamente checa o hálito. Tudo ok. Tudo pronto. E vocês se beijam, os primeiros segundos são tão engraçados, não são? Até você se adaptar com o beijo da pessoa, até vocês chegarem em um acordo silencioso de velocidade, firmeza e sincronia. Ok, assim está bom. O beijo se encaixa perfeitamente.

Quando você vê, não tem mais volta - está tomado por um sentimento maior do que você, pensa nele o tempo todo, não vê a hora de receber uma ligação, uma mensagem de texto, um e-mail, não vê a hora de vê-lo novamente. Conta para todos os seus amigos o quanto ele é incrível, até que eles se contorçam de tédio de ouvir algo que só é relevante pra você.

Nos primeiros dias é tudo azul, a vida é linda, o amor é eterno, as músicas falam por você (as boas e apaixonadas, claro), você concorda com o horóscopo (e se seu horóscopo não prevê algo positivo, você lê o horóscopo do seu ascendente, do seu signo chinês, um deles vai afirmar que é seu momento, que a vida promete as melhores sensações e sorte no amor).

Mas isso são só os primeiros dias. Depois vêm as falhas. Os questionamentos. As ligações prometidas, apenas prometidas, nunca cumpridas. As mensagens de texto sem resposta. O celular que só cai na caixa postal. Aquela pessoa estranha deixando recados suspeitos no mural do Facebook dele. Depoimentos estranhos aceitos no Orkut. As borboletas no estômago se transformam em morcegos, que se debatem febris e sugam toda sua energia e oxigênio por dentro, criando feridas, insegurança, ciumes, brigas, dor de cabeça, de barriga, falta de ar.

Você começa a morrer, lentamente.

Mas é uma quase-morte, que não chega nunca e tem seu ápice quando o relacionamento termina, por essas e outras. A quase-morte faz com que você caminhe por aí como um zumbi, tanto no emocional quanto na aparência, porque você não come mais e não dorme, ganhando palidez e olheiras gigantes. A agonia preenche seus dias, você não vê mais graça em nada e fica se perguntando o tempo todo onde ele está, o que está fazendo, será que ainda pensa em você? Você se humilha, tenta conversar, tenta estabelecer contato, implora por um pouco de atenção e carinho. Tudo em vão. Acabou. Todo o amor que ele disse que sentia acabou. Todos os planos que vocês fizeram, ou que você fez sozinho em segredo, desabaram, te soterraram.

E quando seu corpo não aguenta mais estar quase-morto, quando a dor da perda é quase insuportável, quando você pensa que é o fim da linha... você suporta. Acorda em uma manhã nova, percebe que o sol está brilhando e que há uma vida em fluxo lá fora, todinha sua, todinha cheia de oportunidades, de possibilidades.

Você ressuscita. Você está vivo de novo, por inteiro. E promete para si mesmo que nunca mais vai morrer por alguém. Porque se isso é a definição para "relacionamento", se isso é a consequência por confiar, acreditar e ser honesto, dedicado, entregue, se é disso que se trata o amor... muito obrigado, mas eu prefiro viver.

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