sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Abismo

Todas as coisas que eu te disse hoje ecoam do silêncio no abismo que se fez entre nós.
Os pássaros negros que dormem ali (um dia foram asas de esperanças - minhas, nunca suas) não acordam. As palavras não têm mais força, ou textura, ou sabor. Elas sequer existem.
Chego na beirada, com cuidado para não cair e me espanto com a profundidade do abismo. Não consigo ver o fim, porque é escuro. Receio que se eu me jogar, por algum motivo o qual não me vem na cabeça agora qual seria, eu nunca pararia de cair.
Mas, apesar da escuridão e do silêncio, consigo ouvir alguns sons e eles são tão baixos que eu me pergunto se são mesmo sons ou se são apenas fruto do meu medo do silêncio. Ouço a sua voz, ouço a minha. Nossas risadas, as promessas que eu quis fazer e não fiz.
Ouço também o som do fim chegando, e se parece com o som do mar - bravo, vago, sombrio.
Se você pudesse se sentar ao meu lado, o que você diria?
Se você pudesse se sentar ao meu lado, você seguraria minha mão para que eu não caísse?
Eu tiro meus sapatos, você tira os seus e a gente os joga lá no fundo, só pra ter certeza de que há algo real de nós lá embaixo (não apenas as memórias - minhas, nunca suas).
Apoio-me em uma pedra fria, descubro que você não está do meu lado, que você nunca esteve.
Levanto-me com dificuldade, dou uma última espiada no abismo. Uau, é mesmo fundo!
E então sigo lentamente em direção à vida.
A minha.
Não mais a sua.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Foto

Eu estou segurando sua mão na foto e estou sorrindo. Você também sorri.
Olhando para ela agora eu me pergunto se nós sabíamos, mesmo que só pela alma, lá no fundo do subconsciente, que aquelas mãos dadas e aqueles sorrisos em nossos rostos não significavam mais muita coisa.
Me pergunto, também, se foram as doses de vodka, ou se foram os cigarros, ou se foi o clima, ou se foi qualquer outro fator externo que nos empurraram para o abismo. Mas eu sei a resposta - sei que nem a vodka, nem os cigarros, tampouco o clima, ou o horóscopo, ou qualquer outro fator externo tiveram alguma culpa nisso. A culpa é toda nossa, a culpa é toda minha.
Eu ainda acredito nos nossos olhos naquela foto, ainda acredito na esperança estampada nos nossos sorrisos.
Mas no final da festa ela se retirou para sempre.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Epílogo

Não existe uma música para descrever isso. Não existe um poema, um livro, uma frase. Não existe uma palavra pra descrever esse vazio. Só existe a sua vida, e a vida das outras pessoas que continua seguindo, como se nada tivesse acontecido, e isso talvez seja engraçado.
Existe a sua vida, da qual você tem que cuidar. Trabalhar, estudar, mesmo quando não há vontade de fazer nada disso.
E é só isso mesmo. Esse silêncio aqui dentro, que grita mais do que qualquer som. as lembranças que não me deixam dormir e o medo. Medo de acordar amanhã cedo e sair pela porta da sala, encarar a vida ali, exatamente como eu deixei ela, me esperando, dizendo "Vamos?"
Medo da vontade de dizer pra vida "Não, não vamos. Hoje eu vou ficar aqui, deitado, sem comer, sem tomar banho, sem falar com ninguém."
E medo do medo, propriamente dito. De quando ele aperta, de quando ele me acorda no meio da noite e me faz sentir como se eu fosse uma criança que acordou com frio e não sabe onde está guardado o cobertor.
Você quer apenas se levantar, tomar as rédeas de volta, mudar tudo, desde o começo. Mas agora... que diferença faz agora? Que diferença faz agora respirar fundo e seguir em frente? O que isso muda, afinal? O que isso traz de volta, o que isso conserta?

Que diferença faz querer pegar o telefone, que diferença faz querer gritar "Não. Não vai embora assim"?
Um dia isso poderia ter feito diferença. Há três semanas atrás, ou há um ano, que seja. Não hoje - hoje é um pouco muito tarde. Um pouco muito tarde para ser alguém diferente, para fazer de uma maneira diferente.

O fim é mesmo triste. Mas, pior do que o fim, é o que vem depois dele. Pior do que o fim, é o epílogo.

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