terça-feira, 21 de abril de 2009

Sonho

Acordei em um lugar onde eu provavelmente nunca estive antes. Não consciente, pelo menos. Parecia frio, embora eu não conseguisse sentir meu corpo. Eu via pessoas passando ao meu lado, mas elas não me viam, nem viam umas as outras, como se cada uma delas estivesse em uma dimensão diferente. Além delas, havia criaturas estranhas. Demônios e anjos, esferas de luz e de trevas.
Percebi que não precisava fazer muito esforço para conseguir andar. Era apenas desejar e meu corpo deslizava para frente, como uma folha levada pelo vento. Eu olhei para baixo. Meus pés não tocavam o chão, que refletia todas aquelas imagens ao meu redor, e não havia paredes.
Desejei voar e então pude ver tudo aquilo que ninguém pode ter visto um dia. Não havia casas. Apenas pessoas, de diferentes maneiras: deitadas em suas camas, conversando com outras ou sozinhas, sorrindo ou chorando.
Cheguei perto de uma senhora e notei que ela não conseguia me ver. Estava inexpressiva, seus olhos eram vítreos e algo me fez sentir que ela estava triste. Ao seu lado, havia um velho. Esse sim me via e parecia zangado com minha presença.
Uma força talvez mais potente do que mil gravidades me puxou para longe dali e eu não estava com vontade de ir mais a lugar algum. Fiquei no alto, flutuando como uma pena na superfície de um lago calmo.
Ouvi o som de uma respiração que parecia familiar. Segui o som e encontrei, deitado em uma cama, alguém que por acaso já avistara em alguns espelhos por aí. Eu estava dormindo, calmo. Inexpressivo também, e assim como a velha, havia uma energia triste e confusa sobre mim.
Meu corpo, ainda adormecido, sussurrou: "Onde está você?".
Me dei conta de que eu era apenas a alma que estava perdida em algum lugar, e meu corpo era apenas corpo, também perdido, afogado em um mar de tristeza e confusão.
Olhei em volta. Não vi ninguém.

sábado, 11 de abril de 2009

Mão

Eu sempre fui individualista. Aprendi a ler e a escrever sem que ninguém precisasse me ensinar, e nunca precisei das pessoas para me sentir bem. Na verdade, sempre gostei de ficar sozinho, e quem curava minhas dores emocionais era eu mesmo.
Nunca tive muitos amigos. Três ou quatro, no máximo. Nunca fui aquela pessoa da qual todos gostam na escola, nem aquele que todos conhecem e falam "Bom Dia". Sempre que algo estava mal, eu conversava comigo mesmo e os melhores conselhos que alguém poderia me dar eram os meus. Isso porque só quem está sentindo sabe como é, e as pessoas de fora costumam sempre falar a mesma coisa: que tudo vai ficar bem, que você deve pensar em coisas boas e esquecer aquilo que te faz mal. Como se fosse fácil assim. Então eu mesmo me dizia o que fazer, como fazer, o quanto fazer. Eu sabia a dosagem das palavras e não me culpava se sabia que na verdade não ia dar certo no final. E não dava, mesmo. Mas aí eu estava lá, para me apoiar e me fazer continuar a andar, mesmo quando tudo estava dando errado.
Então tudo ficou diferente. Eu comecei a perder minha voz interior, perdi meu amor-próprio e tudo ficou escuro sem meu eu por perto.
E agora eu preciso de ajuda.

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