segunda-feira, 10 de junho de 2013

Tudo que eu podia ter feito

Sou um grande fã de Grey's Anatomy. Desde que comecei a ver a série, se transformou em um tipo de vício, e eu acabei comprando todos os boxes e uma camiseta, e entrei em uma equipe de legendagem só para poder traduzir os episódios. Não é tão fácil quanto parece: a série é cheia de jargões médicos, é óbvio. Sempre requer várias pesquisas para conseguir traduzir alguns termos. No entanto, há uma frase atribuída a cirurgiões que não deixa de fazer parte do dialeto coloquial todos nós, e a tradução dela é simples em qualquer contexto - quando um médico realiza todos os protocolos para salvar um paciente, corta aqui, emenda ali e mesmo assim o paciente não resiste e morre, é dito aos seus familiares: "Fizemos tudo que podíamos."

Quem já deu tudo de si por algo sabe do que eu estou falando. Horas e horas preenchidas de tentativas frustradas de fazer o impossível: reverter o estágio terminal de algo que estava prestes a morrer; horas inúteis tentando fazer um coração voltar a bater. Então você faz exatamente como os cirurgiões: corta aqui, emenda ali, liga, manda mensagens, conversa, tenta entender, tenta fazer entender. Perde noites de sono tentando encontrar uma forma de evitar o pior: o fim de algo que já está condenado há muito tempo e que não tem cura. Era só uma questão de tempo.

Todos nós somos movidos por algo que gostamos chamar de esperança, independente de tudo que nos faz acreditar que não há mais nenhuma. É o que nos faz lutar por causas que parecem invencíveis, nos arriscar mesmo sabendo que as chances de sucesso são tão pequenas que são quase inexistentes, jogar todas as nossas fichas em apostas duvidosas, tratar situações intratáveis. A esperança nos faz ignorar o óbvio e seguir nossos instintos, que nem sempre estão certos, mas mais do que qualquer coisa, são nossos. Então a gente luta, tenta o nosso melhor, faz tudo que pode. Até que um dia, depois de tudo, até mesmo a esperança morre e é feito outro anúncio: "Hora da morte: 20:10".

Como um cirurgião que tem que encarar o ente querido de um paciente para dar a notícia, é preciso ter coragem para encarar a si mesmo e anunciar: "Fizemos tudo que podíamos". É algo deveras triste de declarar, mas é necessário, e funciona como um álibi que evitará a culpa posterior por não ter tentado. Só assim quem ainda continua vivo pode tentar superar a perda e, mais cedo ou mais tarde, estar pronto para seguir com a própria vida, triste pela ausência, mas com a consciência limpa por ter feito tudo que podia ter feito. E o resto é com o tempo. Não depende mais de ninguém.

Nenhum comentário:

Visitas