domingo, 2 de junho de 2013

I remember it all too well

Tempo. Foi tudo pelo que eu esperei. Todo mundo diz isso, como se fosse uma fórmula mágica: espere o tempo passar. O tempo cura. O tempo é o melhor remédio. Daqui a alguns dias vai passar, você vai ver. Concentre-se em outras coisas, ocupe sua cabeça, estude. Dê tempo ao tempo. E foi assim que eu risquei os dias no calendário um a um, acreditando que quanto mais os dias passassem, mais eu iria me distanciar daquele momento em que você decidiu seguir sozinho. Funcionou. Um dia, quando falaram seu nome perto de mim, tudo que eu senti foi um leve formigamento na garganta; eu engoli e passou.

Então eu ouvi seu nome ser pronunciado por alguém ao telefone naquela noite. Eu estava de novo na cidade onde muita coisa aconteceu. Eu passei pelas mesmas ruas, eu senti o cheiro da fábrica de café, eu voltei no tempo e deveria ser premiado por essa proeza da física. Foi como se nada tivesse acontecido. Foi como se ver você ali e te beijar fosse a coisa mais óbvia do mundo. Se eu fechasse os olhos, conseguiria convencer a mim mesmo que era fim de ano e você estava ali pintado de tinta neon. Consegui ver a gente almoçando em uma das mesas do shopping. Senti o cheiro da tequila misturado ao seu perfume. Ouvi sua amiga rindo. Foi tudo tão real e forte que destruiu toda a defesa que eu havia criado.

É engraçado como a gente pensa que as coisas estão mortas, até elas se mexerem dentro da gente. Eu morri várias vezes e continuo vivo, respondendo para mim mesmo um dos maiores questionamentos da humanidade: há vida após a morte? Há. E desde então, eu tenho tentado montar um quebra-cabeças confuso, com peças faltando e quando, mesmo assim, ele começa a fazer sentido, você aparece e rouba mais uma dúzia de peças. Você me liga para saber como eu estou. Você aparece na casa de um amigo e me abraça por muito mais tempo do que eu deveria, que não é nem um décimo do tempo que eu precisava. E eu vou e desenho novas peças, invento padrões que se encaixem, recorto com cuidado e tento colar nos espaços vazios do quebra-cabeça, e no final das contas tudo que eu tenho é uma figura inexata e surreal do que nós somos, ou fomos um dia.

Algumas coisas não ficaram claras, nem pra mim, nem para você. Uma tonelada de coisas preencheram nossas bagagens durante esses meses, coisas que eu disse sem querer, pessoas que apareceram e dificultaram tudo. Eu, em tão pouco tempo, consegui criar uma versão de mim mesmo que eu nem conhecia, uma pessoa que fala coisas que não deve e se suicida socialmente por acreditar que nada mais tem perigo, que o pior que poderia ter acontecido já passou, que a força que eu criei deveria ser usada para me defender. Eu me joguei das pontes mais altas com o carro em movimento. Eu movi montanhas pesadas e machuquei meus braços. Eu expus um lado tão íntimo que nem você conhecia. Minha consciência se resumiu a esta perda, e eu acreditei que não tinha absolutamente mais nada a perder.

Eu tinha um milhão de motivos para não escrever este texto, e outro milhão para não publicá-lo. E o único motivo que eu tinha para que ele estivesse aqui venceu: o tempo. Justamente ele, que cura. Mas eu descobri algo sobre o tempo que ninguém te diz quando te sugere que deixe o tempo passar: ele deixa as coisas maiores. Ele transforma fogo em cinzas, rochas em areia, pequenos em gigantes. É só isso que o tempo faz e é só isso que o tempo fez comigo: me transformou, e converteu toda a dor que eu sentia em uma armadura pesada que eu não consigo mais carregar.

Se eu pudesse mudar as coisas e escrever minha própria história, você estaria aqui, e nós lutaríamos contra tudo isso, daríamos um jeito de suportar a carga inicial de tempo, até que ele se dissolvesse, até que pudéssemos seguir de onde paramos, ou de onde deveríamos ter começado. Eu ligaria para você agora e diria todas as bobagens em que eu tenho pensado, e você ficaria feliz em saber delas. As pessoas ficariam impressionadas com a nossa força, e talvez até se inspirassem em nós. E eu desistiria dessa pessoa que eu virei, a entregaria para um personagem de um dos livros que eu tento escrever, e nada no mundo me faria mais feliz.

"And I know it's long gone and magic is not here no more
And I might be okay, but I'm not fine at all.
'Cause there we are again on that little town street,
You almost ran the red 'cause you were looking over me
Wind in my hair, I was there, I remember it all too well"
(All too well - Taylor Swift)

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