quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Metadesmorfoses

Tão longe de mim mesmo e dos lugares que eu amava, das chuvas de verão, da árvore recém-enfeitada, das bolas coloridas, das luzes, tão distante de quando bastava acreditar - hoje me pergunto para onde aqueles dias foram, em que momento, e por que se foram, e a resposta é sempre a mais simples: porque eu cresci.

Esse é geralmente o destino de todas as formas vivas: crescer. Aprendemos isso tão cedo quanto desenvolvemos a habilidade de entender o que as pessoas dizem. Coisa de gente grande. Coma seus vegetais para crescer forte. O que você vai ser quando crescer? É inevitável, todos nós nos tornamos adultos.

Mas quando exatamente isso acontece? E tem a ver com o quê? Idade, experiências, metros de altura... O que determina que devemos deixar a imprudência de lado e assumir a responsabilidade de adultos? O que nos força a abandonar certas escolhas e fazer outras mais sérias? Crescer significa mais do que adquirir pelos no rosto e uma carteira de habilitação. É mais do que deixar de assistir desenhos animados para analisar documentários, abandonar os livros de fantasia e colocar biografias em sua cabeceira. Crescer não é só a respeito dos ganhos.

Crescer é perda. Mas, além disso, crescer significa aceitar essas perdas, embora não concorde com elas. Essa é a linha que nos separa do que éramos quando tínhamos 12 anos de idade e do que nos tornamos: quando você começa a ter que engolir o choro e aceitar aquilo que não te agrada, significa que você cresceu. Porque é disso que o mundo adulto é feito: de coisas que não te agradam e que você tem de aceitar, de sapatos que machucam seus pés mas que são necessários em uma apresentação formal, de pessoas com as quais você não se identifica e no entanto tem que conviver todos os dias em seu ambiente de trabalho, de despesas que você não gostaria de ter, mas é obrigado a pagar se quiser ter uma vida no mínimo boa.

Por que algumas pessoas não crescem nunca é uma pergunta para Freud e a psicanálise. Mas, por que crescemos, nos machucamos, engolimos coisas maiores do que nossas gargantas, perdemos parte de nós mesmos e, ainda assim, continuamos inteiros? Bem, essa a ciência responde: ou nos adaptamos para sobreviver, ou estamos fora do jogo.

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