sexta-feira, 20 de julho de 2012

Eu tenho um medo


Quem é você no final do dia? Quando todas as luzes se apagaram e não há nada além do travesseiro, o cobertor e sua cabeça. Sua cabeça bagunçada, cheia de medos, de perguntas, sua cabeça com seus pensamentos tristes, ousados, difíceis. Quem é você quando tudo o que você podia fazer no hoje esgotou seu prazo?

Eu li em algum lugar que a paisagem do deserto no final do dia é diferente da paisagem no começo dele. O vento move as dunas e se você se perder em um deserto provavelmente será difícil sair dele, já que tudo ao seu redor vai estar diferente em algumas horas.

Um dia nunca termina como começa, por mais monótono que seja. E ainda assim temos a péssima mania de olhar para o passado. Vasculhamos ele. Procuramos fotos do passado das pessoas com quem estamos e nada é mais assustador do que este pensamento: virar passado. Ser a areia que é jogada para outra duna, no outro lado do deserto. Transformar-se em uma memória, ou nem isso: ser apenas um pretérito (im)perfeito.

Só que a gente nunca sabe como um dia vai acabar. E esta talvez seja a maior angústia que nós temos: não saber. Essa é a razão pela qual consultamos horóscopos. Por isso existem meteorologistas. Ultrassom, radiografia, pai de santo, adivinha, bola de cristal, por isso a gente lota clínicas de psicanálise, contrata detetives, hackers, bisbilhota até o limite, até a gente achar o que a gente quer. Porque a gente não suporta não saber. Não saber é uma prisão, é paranoia, é claustrofóbico, rarefeito. Não saber o que vai acontecer, não saber o que fazer para impedir. Não ter um mapa no final do dia que te ajude a sair do deserto, uma bússola que te dê as coordenadas. Isso deixa muita gente louca.

O que sobra pra nós no final? Do dia. Do amor. Do medo. O que sobra pra nós quando tudo aquilo que a gente conhece e aprendeu a amar acaba, muda, transforma-se, quando a paisagem não é mais a mesma e a gente se perde em um deserto dentro da gente?


De vez em quando sobra uma mensagem que a gente esquece de apagar no celular. Sobra uma foto, uma música, um texto que a gente escreveu, um ingresso de cinema, um cupom fiscal. Sobra a dor e um caminho de volta coberto por areia. Sobra a paisagem, deformada. A gente grita e ninguém aparece para nos salvar.


Não é isso que eu quero ser, um passado, um acontecimento, uma página virada. Não quero ser protagonista de uma dessas fotos que não significam mais muita coisa, não quero ser uma memória, boa ou ruim. 


Quem eu serei no final do dia? E o que me trouxe aqui? O que aconteceu com a minha paisagem? Ninguém sabe. E isso me tira o sono quase todas as noites.

2 comentários:

Willian disse...

o primeiro e os três últimos parágrafos >< poha cara, diz tudo.

Dany Tiepo disse...

O Segredo:
Pare de se preocupar...
Medos existem pra que façamos as coisas com ponderação e só!

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