segunda-feira, 16 de julho de 2012

Julho




Eu tenho um limite que não vai daqui ali, é um espaço dentro da minha cabeça, um buraco na minha alma, uma carga infinita que eu consigo carregar mesmo quando não dá mais pra mover as pernas. Eu luto. Mesmo quando está escrito em todos os livros, em todos os espelhos, em todos os seus dois olhos que eu vou perder, que eu vou desabar, que eu vou precisar de descanso. Eu luto e dissolvo o tempo na água, engulo com sede, é amargo, passa rápido, o tempo mal chega no estômago e já foi embora pelos meus poros, junto com todas as certezas que trouxe consigo, junto com uma luz que eu pensei ter visto na sua janela, junto com a textura desconfiada da tua língua.

Um livro ao lado da cama, o cheiro do papel e da tinta, eu queria que fosse nossa história e que fosse feliz. Eu alimento meus peixes e invejo a simplicidade das cores que eles pintam com seus movimentos puros, ingênuos, autênticos, soníferos.

Sou um ótimo colecionador de pedaços, sei exatamente como você respira quando dorme, sei o sabor que tem teu queixo, sei da folha de outono seca, laranja e quente que você guarda dentro do peito. Sei das manchas no teu pescoço e da cicatriz no teu espírito. Cada núcleo das tuas células é condutor de uma eletricidade azul, cor de um quarto iluminado só com a luz do poste, e eu levo um choque quando com os lábios toco tua testa e teu nariz e teu ombro. Sei o quanto eu gosto disso. Sei disso tudo e não sei absolutamente nada.

Só tem chocolate no teu copo de sorvete, só tem chocolate nos teus olhos derretidos, a maré que te arrasta é a mesma que me joga pra longe do oceano, de cara na areia, o sal ardendo em meus olhos e eu juro que não estou chorando, é apenas o sal, são apenas meus olhos, são apenas os teus...

De repente a madrugada me engole, eu giro até cair na cama, meu sono é um monólogo rápido, meu cérebro é uma pedra fria, cinza e maciça, eu não consigo pensar. Eu desenho formas abstratas no silêncio, com o silvo da minha respiração difícil e eu brinco que é de verdade que você vai ficar.

Eu queria que você ficasse aqui pra sempre, você e a música na tua voz, você e tua risada, você e seu humor, você e suas mãos e seus dedos, você e sua mordida, você e suas gírias, você e eu quando estou com você, porque é o melhor eu que eu conheço, é o eu mais completo dentre todos os meus eus, eu nunca preciso de muita coisa quando você está aqui, eu só preciso te dizer todas as coisas que eu te digo, eu só preciso me deitar no teu ombro e ouvir o ar entrando pela tua garganta, é tudo que eu preciso, é tudo que o meu melhor eu precisa: você e tudo isso aí que eu mencionei, você e eu, você e essa vontade enorme que eu tenho todos os dias de ser teu.

Julho se arrasta pelas minhas veias como mel escorrendo para o ralo, lentamente, provocante. Julho é uma piada, é uma tragédia grega, é uma comédia romântica barata, julho é uma guerra, é um desafio, julho é tudo e é nada. Julho te levou e você estará aqui quando julho acabar. Eu estarei aqui, também. Eu estarei aqui em julho e em todos os outros meses, eu estarei aqui enquanto eu tiver tempo, eu estarei aqui enquanto eu tiver forças, eu estarei aqui, cara. Eu estarei aqui. Porque eu vou ficar. Eu queria que você também ficasse...


Porque eu não vou a lugar algum sem você.

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