domingo, 1 de julho de 2012

Laranja


Eles têm um método na Indonésia para capturar macacos: é colocada uma laranja, ou qualquer outra fruta grande dentro de uma cumbuca, com um espaço pequeno o suficiente para que apenas a mão do animal consiga entrar. O macaco, procurando por alimento, enfia sua pata na cumbuca e agarra a fruta. Feito. Ele está preso. A mão conseguiria sair com a mesma facilidade com que entrou, se não fosse pelo detalhe chave do mecanismo: o animal não solta a fruta, que é grande demais para passar pelo buraco, impedindo-o assim de se libertar.

Parece uma estupidez gigante à primeira vista, mas não é incomum ver isso acontecendo o tempo todo, não só na Indonésia, não só com os macacos, mas aqui e com todos nós. Quem nunca se viu preso a uma laranja, colocando em risco a própria sobrevivência e, mesmo sabendo disso, recusando-se a deixá-la? Quem nunca se enfiou sem pensar em um espaço muito pequeno, acreditando que ali dentro haveria algo delicioso, suculento e vital, mas que acabou se mostrando um verdadeiro cativeiro?

Todos já nos sentimos como animais irracionais, lutando por algo que nunca vai poder ser conciliado com a vida, com a liberdade, uma escolha entre a laranja e a sobrevivência, entre o amor que encontramos sem querer e a paz de espírito que demoramos longos meses para construir, entre fazer alguém feliz e ser feliz, amar e sentir-se amado - todos nós já tivemos laranjas difíceis de soltar.

Lutamos, ralamos os pulsos, gritamos, gastamos toda a nossa energia, só para descobrir no final que se quisermos mesmo encontrar alguma liberdade é preciso soltar a laranja. O buraco na cumbuca não vai aumentar. A laranja não vai se adaptar ao buraco. E ficar preso a ela é suicídio. A única forma de sobreviver a este tipo de prisão é, obviamente, abrir mão. Por mais brilhante e perfumada que seja uma laranja, não vale a pena se colocar em risco por ela. 


Os macacos que sobrevivem acabam descobrindo que existem outras laranjas pela floresta, que muitas delas estão apenas penduradas em galhos, livres, e que nada pode ser mais suculento e valioso do que uma laranja que está conciliada com a harmonia, a paz de espírito e a liberdade.

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