sexta-feira, 13 de julho de 2012

Placebo


Era uma vez aquela dor de cabeça que você curou com uma aspirina. E na manhã seguinte ela estava lá de novo, e por algumas horas você conseguiu ficar sem ela, graças a outro comprimido, que foi eficaz apenas até a hora do almoço. Um mês depois, a aspirina deixou de fazer efeito e você procurou um médico, para descobrir que o problema era mais sério do que apenas uma dorzinha de cabeça.

Era uma vez uma manchinha que você cobriu com base, e que se transformou em um câncer. Um resfriado inofensivo que resistiu ao antibiótico errado e se transformou em pneumonia. Era uma vez uma história mal contada que você relevou, fingiu que acreditou, e descobriu tarde demais que se tratava de uma traição.

O corpo avisa a gente. Quando tem alguma coisa errada, quando algo está onde não deveria estar, a gente sente isso na pele, nos ossos, nos músculos, na mente. Chamam isso de sintomas e existem milhares de remédios para todos eles, o que nos fez desenvolver essa mania irracional de remediar temporariamente coisas maiores do que parecem ser.

Nós nunca prestamos atenção nesses sintomas. Tratá-los mais a fundo geralmente requer tempo, muitas vezes exige métodos complicados e dolorosos. Então nós apenas os ignoramos, tratamos certas dores com meios que são eficazes apenas por um determinado momento, cobrimos feridas expostas, levamos adiante situações que fazem mal. Mas a cada dia fica mais difícil varrer tudo para debaixo do tapete, e um dia as dores se tornam incuráveis, as feridas inflamam, o tapete se torna pequeno demais.

Por mais que você tente ignorar um sintoma, mais cedo ou mais tarde terá de lidar com a causa dele. Então olhe mais de perto, preste mais atenção, não ignore seus instintos. Se tem uma voz no fundo da sua cabeça, não cale-a. Dê olhos e ouvidos a todos os sinais. No final, é deles que sairá a verdadeira cura: a verdade.

Nenhum comentário:

Visitas