terça-feira, 3 de julho de 2012

Longe demais



Quando eu conto sobre a minha vida amorosa para as pessoas, geralmente a reação é a mesma. Eu fui alguém que repetiu dois anos de ensino médio basicamente por causa de relacionamentos. Eu saí de um emprego por causa de um namoro que acabou. Eu me prendi oito meses a um relacionamento com alguém que não teve a decência de ser grato pelas coisas boas que eu fiz e, em vez disso, jogou minha confiança no lixo. Eu já me vi abrir mão de várias coisas, inclusive de mim mesmo, por pessoas que passaram, deixaram um rastro de bagunça, como um tornado, e então se foram, fizeram questão de ir. Sempre que alguém ouve minhas histórias mal resolvidas, a conclusão é de que eu passei dos limites, enfiei os pés pelas mãos, joguei pérolas aos porcos. Fui idiota demais, ingênuo demais, cego demais. Fui longe demais.

Existe um limite para todos nós, uma carga máxima que cada um consegue carregar, seja ela física ou emocional. É impossível levantar um ônibus com as mãos ou carregar uma tonelada nas costas. Mas uma vez que nossa carga emocional não pode ser medida com números ou qualquer outro tipo de lógica, como a gente sabe que é demais? Qual é o limite que cada um de nós consegue arrastar, e por quanto tempo? Por quanto tempo é possível empurrar uma carga emocional, e puxar alguém junto ao mesmo tempo? Como a gente sabe que está indo longe demais?

Eu obviamente gostava destas pessoas por quem eu me esforcei. Fiz todas as coisas que podia para mantê-las ao meu lado e quando elas decidiram fazer o contrário, eu sofri. Desabei de lá de cima de alguma montanha  imaginária da qual eu tentava alcançar o topo (se é que existe um topo, um auge, nesse tipo de coisa). Todas as vezes que eu pisava em falso, era um escorregão, e eu me machucava de alguma forma, caía alguns metros, segurava em algum ponto da montanha e voltava a subir, mas dessa vez mais fraco, mais ferido, menos confiante de que algum dia veria o sol nascer por trás dela. Até que o chão tremia, eu perdia o equilíbrio e decidia que não valia mais a pena. Eu soltava. Caía de costas no chão e ficava sem ar com o impacto. O céu girava, eu me sentia nauseado.

É assim quando a gente decide se soltar de uma montanha tão importante para nós, que a gente deu tanto duro pra conseguir escalar, é triste e faz o coração doer, a garganta queima e a gente chora de repente, em momentos aleatórios e inesperados, dentro do trabalho, enquanto dorme, enquanto come, como se alguém nos tivesse dado um soco na boca do estômago, dolorido, inesperado. As pessoas que nos amam olham para nós depois, feridos e frustrados, cheios de poeira e sangue pela pele, com a roupa amarrotada, os lábios ressecados e a olheira monstruosa. "Reaja", essas pessoas dizem. "Você não merece isso. Vai lá, toma um banho, encara a vida, encara o sol, procura outra montanha para escalar. Você já foi longe demais!"

Eu entendo cada um de vocês. Peço desculpas, do fundo do meu coração, por não reagir, por não encarar as coisas desta forma tão positiva. É que eu não acho que algo esteja acabado até que realmente tenha acabado, até que eu não tenha mais forças para lutar e decida me soltar dessa montanha que eu encontrei sem querer.

Sei que quando eu decidir me soltar, haverá pessoas lá embaixo para me segurar, ou pelo menos para me ajudar a levantar do chão, e eu sou profundamente grato por isso. Mas infelizmente cabe a cada um de nós saber o quanto está disposto a se esforçar por algo, e quando não vale mais a pena. Quando não dá mais para aguentar o peso e a gente sente que foi longe demais, acho que a gente está completamente errado: fomos longe, sim, mas eu diria que fomos longe o bastante para dizer para nós mesmos "aguentei o máximo que pude". E então a gente se permite soltar, descansar e, depois do baque repentino e das feridas que a gente vai ter que curar, respirar novamente.


Mas, até lá, é uma bela de uma subida. E haja força.

Um comentário:

Dany disse...

Oiee
Tudo que passamos na vida só serve pra uma coisa: o fortalecimento e com todas as decepções aprendemos a pensar mais com a razão e deixar o coração mais de lado (experiencia própria), mas sei que vc é tão forte quanto eu e qdo chegar a hr de alguém te amar realmente vai ver que tudo não passou de experiencias e se entregará de verdade :)

Beijos

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