quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Cronômetro

O medo é a pior parte. De olhar para trás e para frente e ver apenas pássaros mortos no lugar de um céu habitado de cores. Jurei para mim que não estaria neste lugar de novo. Que não rolaria mais um segundo na cama por causa disso. Que não machucaria meus braços por causa do medo. Que respiraria fundo e diria aquelas coisas que eu disse para mim quando estava limpo, curado dessa dependência que eu acabei criando quando os primeiros olhos se abriram para os meus.

Mas minha cama está cheia de pedras e meu estômago rejeita qualquer tentativa de sustento físico. Aquela velha toxina somatizada volta a correr em minhas veias e não há medicina que me cure disso. Nem mesmo a mulher que eu pago para me ouvir todas as semanas tem uma resposta, e eu acredito que essa seja a pior das aflições: a falta de respostas, de propósitos, de explicações. A tela do celular está escura, o led que anuncia as respostas não pisca, e foram inventar essa bendita confirmação de que a pessoa sabe o que você tem a dizer, o que não passa de uma confirmação profunda e cruel do silêncio e do eco.

Um número incontável de estrelas passa pela minha cabeça diariamente, mesmo (e especialmente) quando eu não estou prestando atenção nelas. A lua que movimenta as marés ajuda a produzir o vento que refresca uma primavera tão abafada quanto as minhas palavras. A gravidade me puxa para o chão quando eu não estou esperando. O Sol nasce e se põe diariamente com a mesma indiferença que me assombra nas pessoas. E mesmo assim, mesmo sendo testemunha do movimento da vida e das voltas do mundo, nada me prova que o tempo não tenha voltado e parado, que as coisas mudaram mas não continuaram sendo exatamente iguais, que meu cérebro transforma a realidade em uma linha cronológica eficiente.

E quanto tempo eu tenho? Se o cronômetro que dedos maldosos acionaram no momento daquele primeiro beijo conta os minutos restantes para meu colapso, quantos segundos eu ainda tenho antes que o agora inevitável desastre aconteça novamente?

Eu pensei que a vida fosse uma cachoeira na qual você lança as coisas e elas nunca mais voltam. Mas, depois de tanta água fria batendo em minhas canelas, eu percebo que a vida é um oceano gigante e que as coisas têm essa mania revoltante de voltar para você depois que você as lança e, no momento em que você pensa que as tem, o oceano as puxa de volta.

Nada que vem de um mar de imprevistos pode ficar para sempre. E cada passo que você dá para tentar segurá-la é uma forma infalível de se afogar.

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