sábado, 12 de outubro de 2013

À deriva

Assisti ontem ao eletrizante "Gravidade", filme estrelado por Sandra Bullock que entrou em cartaz essa semana no Brasil. A atriz vive uma jovem engenheira da NASA, Ryan Stone, em sua primeira missão espacial, com o objetivo de consertar o telescópio Hubble. Devido a uma repentina chuva de destroços de um satélite antigo, Ryan é desprendida da nave em que trabalhava e fica à deriva no espaço. Um de seus colegas, Matt (interpretado por George Clooney), a resgata, prendendo-a ao seu jetpack com um cordão.

Sem controle nenhum de seus movimentos, ela é guiada apenas por Matt, que a transporta até a Estação Espacial Internacional, onde poderá conseguir ajuda. Percebendo que não conseguirá salvar ambos, Matt decide desprendê-la de si. "É isso, ou morreremos os dois", ele argumenta, quando Ryan já está praticamente sem oxigênio e suplica ao colega que não a solte. Mas ele o faz, e o filme começa de verdade.

Por mais assustador que pareça estar flutuando sozinha no espaço, antes disso, a personagem apenas segue os movimentos do amigo. Enquanto seu oxigênio se esgota juntamente com suas chances de permanecer consciente para lutar, ela nada pode fazer por si mesma. É só quando ela está sozinha e livre que a verdadeira luta pela sobrevivência começa.

É assim no espaço, e é assim na Terra, também. Estamos todos procurando sobreviver, à deriva em plena gravidade, esbarrando uns nos outros e nos destroços que a vida lança contra nós. E não adianta gritar, ninguém está ouvindo, ninguém aparecerá para te salvar. Tudo o que você tem que fazer é soltar.

No espaço ou na Terra, às vezes é preciso desapegar-se e deixar ir para poder fazer algo por si mesmo. Abrir mão de cordões e laços que nos prendem a situações em que não podemos fazer absolutamente nada, a não ser esperar pelas decisões de outras pessoas. Desistir de ficar apenas assistindo enquanto suas chances se esgotam, e lutar ativamente, antes que seu oxigênio e suas forças acabem. "Você precisa aprender a abrir mão, Ryan", diz Matt. Todos nós precisamos.

Às vezes, é a única chance de sobreviver. A única solução é a mais assustadora: estar sozinho. Lutar por si mesmo sem a ajuda de ninguém. Agarrar-se a tudo que pareça seguro quando se está à deriva. Deixar ir e começar a procurar esperança e salvação onde parece não haver nenhuma.

Um comentário:

Claudimara disse...

Muitas vezes tudo o que você mais quer é dividir o seu oxigênio com a pessoa, mas depende dela querer compartilhar do seu humilde cilindro. Talvez ela pense que existam lá fora cilindros dourados e brilhantes bem melhores que o seu.
Talvez esta pessoa prefira estar a deriva por não reconhecer a sua boa intensão em dividir e essa é a maior ingratidão que existe.
Talvez você já tenha passado por coisas demais nessa vida para merecer, a essa altura, a indiferença total que lhe é oferecida. Mas mesmo assim você vai continuar tentando, porque o amor fala bem mais alto que tudo isso.
E um dia essa pessoa talvez consiga te enxergar, mesmo que você já esteja longe demais para que ela te alcance!

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