terça-feira, 8 de outubro de 2013

Montanha-russa


Foram duas horas e meia de fila da Montezum, a montanha-russa do Hopi Hari. Duas horas e meia de uma espera massacrante, não pelo sol sobre mim, nem pela fila em si, mas pelo medo. Durante esse tempo, milhares de coisas passaram pela minha cabeça. E se eu cair? Será que as travas de segurança são mesmo seguras? Espera aí, elas travam apenas as pernas? E o resto do corpo? De novo, e se eu cair? Meu lábio inferior tremia, assim como minhas mãos e o resto do meu corpo. Mal conseguia me concentrar nos assuntos que meus amigos começavam. Eu comentava, ria, mas meus olhos e minha mente estavam nos carrinhos verdes da montanha-russa e em suas travas de segurança.

Mesmo assim, eu fui. Parte porque sabia que iria me arrepender se não fosse, depois de cinco horas de viagem, depois de duas horas e meia de fila. Ir ao Hopi Hari e não andar na Montezum não é ir ao Hopi Hari. Parte porque havia uma certa pressão sobre mim por parte dos meus amigos: você vai, sim, senhor. Quando vi, já estava sentado no carrinho, com o cinto atado e a trava de segurança nas pernas. O carrinho começou a andar. É agora! Não tem mais volta.

Apesar de ter sido a primeira vez que andei naquela montanha-russa, a sensação era familiar. O medo, a hesitação, a expectativa. Passamos por isso durante toda a vida. Criamos um milhão de fantasmas e acidentes imaginários dentro de nós antes de um evento grandioso e, quanto maior é a espera, maiores ficam os fantasmas e os medos. Já passou por isso quem andou de montanha-russa, mas também quem teve que falar para um público gigantesco, quem já se jogou em um relacionamento duvidoso, quem já ficou horas e dias esperando por qualquer coisa aparentemente perigosa e ameaçadora. Quantas vezes você já se perguntou "E se eu cair de cara no chão?", "E se não for seguro?", "Quais as chances de dar tudo errado?". Eu, muitas.

A Montezum tem, logo no início de seu trajeto, a maior tensão do brinquedo inteiro: uma subida enorme, infinita e lenta, muito lenta. O carrinho inclina-se e começa a subir; você olha para os lados, o parque vai ficando cada vez mais visível. A expectativa vai aumentando até que o trenzinho atinge o ponto máximo do arco. Lá de cima, dá para ver tudo. É agora, você pensa. Já era. De repente, ele despenca do outro lado do arco, desenfreadamente, uma queda-livre a 100 quilômetros por hora.

Depois que o trem começa a cair, você percebe várias coisas. Primeiro, as travas são seguras, sim. Segundo, você não vai cair. Terceiro, a sensação é incrível! Depois da expectativa e do medo, eu não conseguia parar de gritar e rir ao mesmo tempo.

Ter medo é natural. Fomos feitos para isso e estamos aqui em razão disso. O medo nos alerta dos perigos e nos faz pensar bem antes de agir. No entanto, não sabemos controlá-lo e só usá-lo quando realmente está a nosso favor. A descarga de adrenalina nos impede de pensar que, talvez, deixar de fazer algo por causa do medo pode nos privar de momentos incríveis e oportunidades únicas.

Confie em seus instintos mas, de vez em quando, arrisque-se. Enfrentar o medo e se jogar nos nossos maiores desejos rende histórias interessantes, fotos hilárias e sensações indescritíveis. A alegria que vem depois das expectativas, da subida assustadora e do ápice do medo é insubstituível. Você percebe que seus medos eram apenas medos, frutos da nossa mania de acreditar em todas as coisas existentes no universo das coisas possíveis (e nem sempre prováveis), e curte a vista, que só nos é proporcionada quando nos arriscamos e enfrentamos nossos medos.

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