quarta-feira, 27 de junho de 2012

Tomorrow




Quando algumas coisas ruins acontecem, nós demoramos para reagir. Se você cai, o corpo demora alguns segundos para sentir dor. Alguém que sofre um acidente de trânsito entra em choque na hora, fica imóvel, sem reação, mal respira. Uma notícia ruim é tão inacreditável que a gente tem que fechar os olhos para processá-la.

De uma forma geral, quando algo ruim acontece, existe sempre algo pior por vir. O momento do impacto é neutro: o pior é o que vem depois. Gostamos de mentir para nós mesmos que amanhã será melhor, amanhã fará sol, amanhã tudo será diferente. Mas nem sempre é assim. Na maioria das vezes, amanhã é mais difícil do que hoje.

Hoje é o dia em que a notícia foi dada, em que a bomba explodiu, em que você se chocou com a verdade. Hoje é imóvel, é silencioso, é repentino. Mas amanhã é o dia em que você vai descobrir que é verdade, mesmo, que não foi só um sonho ruim, que você dormiu, acordou e realmente aconteceu, as paredes realmente vieram abaixo, o chão sumiu, o nó na sua garganta está mais apertado do que nunca, você estava indo em uma velocidade muito alta e não se deu conta de que havia um muro à sua frente.

Amanhã é o dia em que você vai ter que aprender a dar os primeiros passos de novo: pra fora da cama, e depois do quarto, e então de casa, encarar o mundo seguindo em frente lá fora, os carros seguindo para qualquer lugar, as pessoas entrando e saindo de seus locais rotineiros, a vida acontecendo naturalmente, mesmo que pareça que houve uma interrupção no tempo, que o mundo parou um pouquinho. Será o primeiro "tudo, e com você?" que você vai responder para alguém, tentando não transparecer a verdade. Amanhã você terá que aprender a sorrir de uma forma diferente, a engolir certas lembranças ásperas no meio de um dia útil. É o primeiro dia depois da mudança; é o começo da cura. Amanhã são horas intactas, cheias de escolhas e recaídas. Amanhã é a primeira refeição que você vai engolir por obrigação. Amanhã é o primeiro expediente que você vai fazer sentindo o tempo se arrastar, ouvindo todas as pessoas falarem de coisas que, por alguma razão, te lembre do impacto. 


Amanhã é ir para a casa depois do trabalho sem vê-lo, para não dificultar as coisas. Amanhã é a força que você vai ter que descobrir onde encontrar. Amanhã você vai se perguntar por quê. Não haverá respostas. E amanhã vai doer. 


Amanhã é pesado, é o dia um, é o (re)começo da escalada. O principal motivo de adiarmos as coisas é que, de alguma forma, sabemos que as consequências das nossas escolhas geralmente são mais difíceis do que imaginamos que seriam. No entanto, depois de amanhã, vem outro amanhã. E então outro, e mais outro, e mais outro. E se soubermos encarar todos os dias, sem adiá-los, sem temê-los, um belo dia a gente acorda em um amanhã que se transformou em um hoje, e descobrirá que hoje realmente é melhor, que realmente faz sol, que as coisas estão mesmo diferentes.

Porque amanhã realmente é difícil. Mas será ainda pior se não nos permitirmos hoje dar início ao primeiro passo de toda a dor e também de toda a cura: o depois.

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