sexta-feira, 22 de junho de 2012

Insustentável Leveza


Eu aguento o não. Eu aguento a verdade. É uma forma completamente distorcida do que eu desejo, mas eu consigo suportar. Consigo aguentar o frio de qualquer madrugada, e aguento a fome de dias sem o menor apetite. Suporto a falta de oxigênio e a insuficiência dos meus pulmões. Tolero o modo como as cores ficam mais brilhantes por causa da adrenalina da espera, e como elas se tornam opacas quando a expectativa é frustrada.

Eu aguento o chão gelado de manhã, aguento me virar na cama e procurar pelo telefone. Não é tão difícil. Eu o alcanço e são sete horas. Eu volto a dormir e de repente são oito e meia. Durmo de novo, são nove e quinze, uma mensagem nova. Eu consigo aguentar esses intervalos.

O pedaço de papel rabiscado e que eu joguei fora porque tinha escrito algo que queria te dizer, mas que não podia. O pedaço de frase que eu engoli porque seria assustador pronunciá-la inteira. O sabor de sangue que fica em meus lábios quando você me beija e meus batimentos cardíacos acelerados que você sempre ouve e comenta. Eu consigo aguentar o espaço apertado no carro, o espaço apertado no tempo, o espaço apertado na garganta que dificulta a passagem do ar de vez em quando.

Mas ainda não aprendi a lidar com o cheiro que fica em minha pele quando eu chego em casa depois de te ver. Ainda não sei sair lá fora e não te procurar em todas as placas, em todas as portas, em todas as músicas que tocam nos carros ao lado. Não suporto a chuva fria molhando minha roupa, que gruda em mim, e eu sinto frio mas não tem você para aquecer meus ossos. Ainda não consigo aguentar o cheiro do açaí, alguém falando inglês perto de mim. Tudo isso me lembra você de repente e eu não consigo me preparar, simplesmente vem, quando eu menos estou esperando, quando minha cabeça está seguindo um padrão normal de pensamento, de repente você está ali na minha frente - e não está - sorrindo, com seus olhos semi-cerrados e sua boca bem desenhada. 


E é assim, um dia eu aprendo, a gente sempre aprende, depois de um tempo que a gente passa explicando pra gente mesmo que "vai passar, vai passar", realmente a gente aprende a aguentar. Mas de todas essas coisas, acho que há uma que eu nunca vou aprender a suportar: não saber. 


Não saber é insuportável.

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