sábado, 24 de julho de 2010

O drama barato da cerveja barata

Inspirado na moça do outro lado do bar

Quando eu cheguei aqui nesse bar não havia quase ninguém. Agora, parece que toda a América do Sul resolveu se enfiar dentro desse espaço - que não chega nem perto de ser grande.
Eu sabia que ele estaria aqui. Apenas não sabia que ele estaria acompanhado.
Quem é aquela filha da puta?
Tento andar no meio dessa multidão e essa é uma tarefa difícil. As pessoas esbarram em mim e passam a mão na minha bunda, e eu quase derrubei a garrafa de cerveja, o que seria um grande prejuízo.
Meu principal objetivo de vida agora é ir para casa.
Não consigo me lembrar onde estacionei meu carro. Não consigo me lembrar se vim de carro. Ou se eu tenho um.
Enquanto me decido, sento em uma cadeira e dou um gole na cerveja. Essa porra tem gosto de vômito.
Acho que eu vou vomitar.
Há algumas pessoas vestidas de palhaço andando por aí (como eles conseguem circular com tanta facilidade no meio desse mar de gente?) Eles carregam uma caixinha com papéis recortados, para que as pessoas mandem bilhetes umas para as outras. Uma espécie de correio elegante.
Sinto vontade de pegar um papel na caixa e mandar alguma pessoa ir se fuder. Não sei quem. Qualquer pessoa merece ser mandada a ir se fuder essa noite. Talvez aquela garota de vestido azul-real.
Eu não gosto de azul-real.
Chamo o palhaço e peço um bilhete, e ele me diz que custa cinquenta centavos. Mas não vou gastar cinquenta centavos para mandar alguém ir se fuder, então mando o próprio palhaço, por cobrar tão caro em um pedaço de papel.
Não me sinto mais leve.
Como eu vim parar aqui?
Olho em volta procurando algum rosto conhecido, mas estou tão bêbada que se olhar eu mesma no espelho, nunca vou me reconhecer.
Estou com tanta raiva. Quem é aquela filha da puta que ele está beijando?
Vou beijar o primeiro cara que me pedir, seja ele quem for, seja ele como for. Vou beijar até mesmo se for uma mulher tão bêbada quanto eu. Eu não sou lésbica, apenas estou zangada.
Alguém me cutuca, como se pudesse ler meus pensamentos, e pede para me beijar.
Era um rapaz e ele tinha uma mancha perto da boca que tanto podia ser apenas uma mancha quanto um inseto estranho. Reparar isso foi involuntário, é aquela primeira coisa que você pensa quando vê uma pessoa, nos primeiros milésimos de segundo que seus olhos a enxergam. Você não pensa "o que eu faço?", você pensa "uma mancha" ou "um bigode" ou "que monocelha indecente!"
É claro que eu não o beijei.
Concentro-me em ir embora. Isso está piorando.
Essa fumaça está me deixando enjoada.
Acho que vou vomitar.
Tenho a brilhante ideia de apalpar meus bolsos e verifico que tenho uma chave de carro.
Isso explica muita coisa. Eu vim de carro. Eu tenho um carro. O mundo faz todo sentido agora.
Não tenho forças para levantar da cadeira. Mesmo porque, estou incapaz de dirigir assim.
Começaram a tocar aquela tal de Amy Wine alguma coisa. Não consigo me lembrar do nome dela.
Não consigo me lembrar meu próprio nome.
Me lembro de ter vindo com alguém. É, parece que eu vim com alguma amiga.
Me levanto e me deixo ser levada pela maré de pessoas dançantes.
Nenhum rosto me é familiar.
Agora estão tocando Elis. Você sabe, aquela música "minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos..." Que tipo de bar é esse?
Não posso ir embora assim. Vou bater no primeiro poste que aparecer na minha frente. Ou não vou ser capaz nem de achar meu carro. Há alguns minutos eu não sabia se tinha um carro.
Me pergunto se isso pode ficar pior. Olho para o teto e vejo que tem uma mancha de infiltração, provavelmente debaixo da caixa d'água. Sim, pode ficar pior. O teto pode desabar em uma enxurrada. Uma cena e tanto.
Não tenho um puto no bolso para pagar um taxi.
Alguém me cutuca, de novo. "Uma cicatriz."
Mas eu conheço aquela cicatriz. Eu conheço aquele rosto. É ele.
- Quem é aquela filha da puta? - pergunto.
Ele dá risada e diz alguma coisa que eu não consigo ouvir, porque a música está muito alta. Quem se importa?
- Me leva embora?
Ele faz que sim com a cabeça e me leva no meio da multidão, me segurando pelo braço. Assim parece mais fácil chegar à porta.
- Puxa, que noite ótima, não acha?
- Não - respondo. Dou outro gole na cerveja e jogo a garrafa no gramado do estacionamento. Aquela porra tem mesmo gosto de vômito.
Nós entramos no carro dele, eu vejo o meu estacionado há alguns metros. Amanhã eu volto para buscar.
Sinto uma vontade grande de chorar. Que noite horrível, que vida horrível.
- Eu posso te dar um beijo? - ele diz.
Abaixo o vidro, sinto o ar gelado batendo no meu rosto.
Agora é oficial.
Vou vomitar.

3 comentários:

Anônimo disse...

gostei do seu post,vc escreve muito bem.me siga no meu blog bjs

Anônimo disse...

oi Bruno,obrigada por ter gostado do meu post e sim vc pode me chamar de Jaque rs.Bjs e sempre q tiver post novo estarei aqui comentando.bjs

Anônimo disse...

olá querido
obrigada por ter gostado do meu blog e passar porlá quando dá tempo,faz quase 1 semana q vc naum posta,to ansiosa pelo próximo post,adoro seu jeito de escrever
Bjs

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