terça-feira, 25 de maio de 2010

Amanhecer - de verdade

A janela está aberta e o ar que entra por ela é frio.
Como é irônica a passagem do tempo. Como é irônica a maneira como passamos por ele.
A luz de alguma coisa no mundo (ou pode ser no Universo, não desconsidero a Lua) projeta sombras sem sentido nessas paredes de cores gastas.
Mas não me assusta mais estar aqui sozinho. Não me assusta mais acordar durante a noite e não sentir um calor familiar ao meu lado.
Parou de fazer efeito em meus ouvidos o som da sua voz, e meu coração não bate mais forte quando sinto seu cheiro em minutos aleatórios dos meus dias e eu não vou acordar em pânico caso você resolva entrar em meu sonho durante a noite.
Deixo você ir, escapar por meus dedos como a areia lenta de uma ampulheta. Deixo você se afogar no sal da minha indiferença e não vou mais olhar para um passado que não está mais pendurado em nenhuma parede da minha memória.
Queimo as molduras onde você se encontra, bebo o licor do meu orgulho e agora eu entendo que a verdade é apenas essa, e que essa é a única maneira de encarar a verdade: você foi um ponto final. Você foi - e ponto final.
Pulo a linha nesse caderno incerto, rasgado e rasurado que é a vida, e inicio um novo parágrafo, onde seu nome não será mais citado.
Preencho as lacunas em meu cérebro com outros odores, com outras temperaturas e outras frequências eletromagnéticas. Governo o movimento dos meus tímpanos com outros timbres, outras batidas musicais, outro tipo de som que não tem harmonia com você.
O ar frio, antes dito, anuncia a chegada de um inverno frio, solitário.
Mas há um amanhecer novo, todos os dias.
Em algum lugar do mundo (ou pode ser do Universo, não desconsidero o Sol) existe luz e calor.
Mas não mais em você.
Pode ir agora.

2 comentários:

Danielly Tiepo disse...

Simples e lindo...

To sempre aqui!
Beijo

Sol & Lua disse...

Mistura de você com você mesmo, alma poética em corpo de anjo!!!
Beijo, Sol & Lua

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