Ouvia o som ao seu redor mas não sabia distinguir de onde vinha, qual idioma era, se era fala, se era canção, se era barulho. Não sabia se vinha de fora ou se era produzido dentro.
Algumas pessoas passavam por ali, mas não parecia se incomodar. Apenas cantava.
Cantava por aqueles que estiveram ali um dia, mas que se foram.
Cantava pelos momentos que não queria esquecer.
Cantava pela vida que um dia teve. A mesma vida que perdeu.
Cantava, também (e principalmente) pelo amor.
Pois haviam lhe dito, durante toda a vida, que o amor faz parte da alma e que é infinito. Mas todos estavam errados. Porque quando olhava para si mesmo, não via amor algum. Era apenas uma alma. Com lembranças, com uma canção fria e sem palavras. Mas nenhum amor.
Se alguém passa por aquele campo hoje, no meio da cidade, com árvores que esconderam momentos secretos, com orvalho frio sobre as folhas, com um céu estrelado e cinzento logo acima, pode ouvir o canto do fantasma - se sentar-se na grama fria e fechar os olhos, escutando de alma para alma.
Porque ele ainda canta ali.
Canta por tudo que é efêmero: o tempo, a vida e o amor.
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O que tu viste amargo,Doloroso,Difícil,O que tu viste inútilFoi o que viram os teus olhosHumanos,Esquecidos...Enganados...No momento da tua renúnciaEstende sobre a vidaOs teus olhosE tu verás o que vias:Mas tu verás melhor...... E tudo que era efêmerose desfez.E ficaste só tu, que é eterno.(Tu tens um medo - Cecília Meireles)
P.S.: O ponto-b fez 2 anos no último dia 15. Não que isso seja grande coisa, porque o próprio blog não tem a intenção de ser grande coisa. Mas gostaria de agradecer sinceramente a todos aqueles que passam por aqui de vez em quando, que acompanham meus textos (mesmo eles não sendo tão bons assim), e que eventualmente deixam um comentário com palavras carinhosas. Vocês são meu grande incentivo e minha fonte de inspiração. Obrigado a todos! Bruno F. Bertoni.
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