segunda-feira, 8 de junho de 2015

Sobre a queda


Cair é uma das experiências mais traumáticas que passamos pela vida. Você está caminhando e, quando se dá conta, não existe mais nada ali para te apoiar. Sempre que alguém cai é porque acredita que a um passo à frente haverá mais chão, haverá mais um degrau, haverá caminhos livres de obstáculos.

Não é diferente nas quedas metafóricas. Passamos a vida inteira tentando atravessar cordas bambas. É melhor não olhar para baixo, focar em seu destino final, respirar fundo e acreditar no pouco de chão que você tem para pisar. O problema é que nem sempre conseguimos nos manter de pé. Perdemos o equilíbrio por qualquer coisa, qualquer corrente de vento produzida por palavras que não esperávamos ouvir, por coisas que não queríamos ver, por tratamentos que não merecíamos receber, por notícias que nunca imaginamos saber.

De repente, não há mais chão para te segurar e, em questão de minutos, você assiste enquanto seus pés mergulham no abismo profundo e escuro do desconhecido. Você mal consegue gritar com a força que te puxa para baixo. Você tenta se apegar a qualquer coisa que esteja nas bordas do abismo: galhos, objetos, lembranças, pessoas -- qualquer coisa que possa interromper a queda.

No entanto, por mais difícil e traumático que pareça, cair é fácil, simples, rápido. Você não faz nenhum esforço para isso: a gravidade te puxa para baixo, seu corpo obedece às leis da física. Não é algo ativo: você simplesmente espera pelo momento em que algo interromperá sua queda e ela acabe. O verdadeiro trabalho não está na queda: está no chão frio e duro da realidade. Está nos ossos quebrados, está nas feridas, está no sangue e nas lágrimas derramadas, está na reunião de forças para ficar de pé de novo.

E depois que seu corpo foi esmagado pela gravidade e remendado para que pudesse funcionar de novo, a parte mais difícil da queda se inicia: juntar o que era importante e caiu junto com você, tirar a poeira dos olhos, escalar o abismo, agarrar-se a qualquer raiz exposta nas paredes dele e, mesmo com a dor e com o peso do que você está trazendo de volta, puxar-se para cima para encontrar terra firme novamente, adaptar-se à luz forte da realidade e encontrar maneiras de sobreviver sem um pedaço tão familiar e confortável do chão.

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