segunda-feira, 22 de setembro de 2014

It's just medicine



Eu não sabia o que dizer a princípio. E havia um tom de chocolate meio-amargo misturado em seus olhos doces, uma irresistível tentação emoldurada por cílios curtos, mas bem desenhados, delineados em um ângulo perfeito com o seu sorriso que poderia dizer tantas coisas, assim como eu.

Agora você me chama de louco e eu rio por dentro, mesmo que nunca tenha gostado dessa definição. Existe um meio-termo para tudo, eu percebo. Eu que sempre vivi além da borda, derramando mais do que eu conseguiria aguentar. Eu que nunca encontrei uma cura definitiva para algo tão instável que é o que eu sou. Eu que sempre tive medo do escuro, percebo que estou tateando nele, procurando por portas que possam dar a algum lugar da sua alma, janelas que possam arejar um pouco do rarefeito que queima dentro do seu peito.

Você poderia ser o que quisesse, e eu realmente não iria ligar. Eu gosto de todas as tonalidades que você apresenta, do púrpura ao azul-claro, do céu rosa ao verde da aurora boreal, do negro que tinge seus cabelos ao branco profundo e puro que ilumina seu sorriso.

Então você me fala de dor e eu entendo cada agulhada dela. Cada junta que range quando algo parece pesado demais. Cada droga que puxa nossa alma sem a nossa autorização. Conheço a dor como uma velha amiga, eu que fui despido da pele que me protegia dela. Sei o que você sente quando fala da dor. Sei o que você sente quando fala de medo. E me pergunto, em algum lugar dentro de mim que eu geralmente não ouso estar: qual seria o seu remédio? O que poderia curar isso em você?

Se não o risco, se não as penas com as quais você monta suas asas, se não o som de outro coração batendo próximo ao seu, se não a chuva que aguarda para cair, onde estaria - por trás dos teus medos e do teu sorriso, por trás da introspecção charmosa e da rispidez agridoce das tuas palavras - um mapa que pudesse te ajudar a escapar, e que pudesse me ajudar a te encontrar no meio do caminho?

São apenas remédios, afinal de contas. Apenas atalhos para amenizar as dores. Elas vão estar lá o tempo todo, por mais que você tente ignorá-las. Mas eu diria que eu seguraria sua mão quando você a sentisse e deixaria você esmagar meus dedos; que eu te salvaria de um temporal ou me molharia na chuva com você; que eu estaria do seu lado e impediria que a enxurrada levasse embora o que você tem de melhor; que eu manteria meus olhos abertos para que você pudesse fechar os seus.

Então eu abri minha boca para dizer cada uma dessas palavras. Eu respirei fundo, mas o silêncio me engasgou. Eu não soube o que dizer a princípio. Mas agora eu sei.

Agora você sabe.

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