quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Minta pra mim

Diga a verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade. É o que imploramos o tempo todo. Não suportamos o fato de não saber o que está por trás das coisas mais importantes, e quando estamos mergulhados em dúvidas e medos, ela parece ser a salvação, a lufada de ar que nossos pulmões precisam.

O problema com a verdade é que ela nunca é o que você gostaria de ouvir. Ela derruba todas as suas expectativas e sai do roteiro que você havia planejado para a sua vida. Assim, de vez em quando, por mais que imploremos pela verdade como se ela fosse salvar nossas vidas, ela é a última coisa que queremos saber. Talvez porque queremos mais cinco minutinhos do doce sono da mentira que inventamos para nós mesmos. Talvez porque, quanto mais tarde soubermos da verdade, mais tempo teremos para nos preparar para ela.

Mas não se pode contar com os muros que erguemos para nos proteger, nem com os mapas de emergência que traçamos para fugir dela. A realidade tem uma forma peculiar de se apresentar à prova de qualquer preparação. Quando você menos espera, ela está à sua frente, como um balde de água fria te acordando sem piedade: amores acabam do nada, pessoas morrem em um piscar de olhos, amigos nos decepcionam. E quanto mais tempo demorarmos para aceitar isso, mais difícil será quando formos obrigados a encarar.

Por mais que tentemos fingir que não vemos, ela está lá, o tempo todo. No fundo do seu subconsciente, nos sinais que captamos sem perceber. Ninguém pode esconder a verdade por muito tempo, nem das outras pessoas e tampouco de si mesmo. Com o tempo, ela se torna aquele ferimento que você optou por não tratar e que cresceu e inflamou; aquele sintoma que você ignorou e que piorou, e que nenhum remédio consegue amenizar mais. No final do dia, ela te cutuca, e você pode até tentar ignorar, mas nada é maior do que aquela voz dentro da sua cabeça que te diz de novo e de novo o que você precisa saber. O que você quer ouvir. Mas que você prefere evitar. E então você reza para que, da próxima vez, você saiba mentir melhor para você mesmo porque, por pior que seja uma realidade inventada, ela é mil vezes melhor do que a verdade.

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