sábado, 16 de março de 2013

I Will Survive


Eu pensei que fosse morrer. Quando ele disse que não queria mais, uma parte de mim não conseguia acreditar, processar a informação, e a outra entrou em desespero, acionou um alarme vermelho que ficou rodando e apitando dentro da minha cabeça. Eu preciso ficar sozinho, ajeitar minha vida. É por causa do seu ex, né? Não, Bruno, não é. É sim. Não é. Ok, por que você não pode ajeitar sua vida comigo nela, então? Não é assim, Bruno. Como não é assim? A gente se vê só de final de semana, não vai te atrapalhar em nada. Não é assim, Bruno. Você só sabe falar isso? Bruno...

Quando um amor acaba e parece que uma parte de nós se foi, a gente não quer saber de mais nada. Tira esse sol daqui, fecha essa janela e essa porta que eu quero dormir para sempre; não quero saber de comer, de tomar banho, não quero ficar bonito nem saudável. Quero apenas me deitar nessa cama, me enfiar debaixo desse edredom, e só sair daqui quando esquecer de tudo, seja vivo ou morto.

Levanta daí, Bruno. Para com isso. Você é tão bonito, tão bacana, tanta gente gosta de você. E daí? Ele não gosta mais. E daí que não? Ele não é a coisa mais importante da sua vida. É sim. Não é, Bruno, não é, você vai encontrar outra pessoa, que te mereça, que valha a pena. Mas ele disse que me amava, disse que ficaria comigo, acontecesse o que acontecesse. Não era verdade, Bruno. Por que não era? Não sei. Ninguém sabe. Ninguém sabe. Agora, levanta daí, e vai comer.

Mas eu não fui, e acabei no hospital com desidratação. O médico receitou um soro, o enfermeiro veio aplicar. Pensei nele. Doeu. O enfermeiro procurou uma veia, mas não achou. Será que já estou morto? Procurou de novo, encontrou uma bem fina na base do pulso. Pensei nele de novo. Doeu mais. O enfermeiro colocou a agulha. Doeu. Está doendo? Não. Se começar a doer, me chama. Chorei.

O maldito sol que nascia todos os dias. Mal sabia eu que era ele que ia me jogar para frente. Eu já estava bem, quando descobri que ele estava com o ex de novo. Foi triste. Perdi a cabeça, quebrei tudo que ele tinha me dado, chutei o carro do cara, xinguei ele de todos os nomes, falei um milhão de verdades que estavam entaladas na minha garganta. Me libertei. Descobri a pessoa que ele era, que sempre foi, mesmo estando comigo durante todos esses meses. Me arrependi. Chorei. Chorei. Quis bater em alguém, quis matar alguém, quis me matar. Mas o sol, ah o sol... Estava lá, acontecesse o que acontecesse, ele sim estava lá sempre. Me obrigando a levantar da cama, a encarar a realidade, a juntar meus cacos rapidinho e ir para o mundo, que não ia ficar esperando para sempre.

Fui lá fora e encontrei olhos azuis. Ganhei um livro, depois de ter vendido todos os meus por ele. Encontrei amigos. Vi as nuvens. Conversei com desconhecidos no ônibus. Almocei na universidade. Perguntei os nomes dos outros. Elogiei alguém. Comprei tênis novos. Vi um pedaço de vegetal no microscópio, e a vida é tão linda, tão perfeita, tão encaixada - tudo está ali por um motivo. Dobrei uma esquina e começou a chover, uma chuva pesada, típica de verão, tão densa que dava para passar por entre as gotas sem se molhar. Dei risada com uns amigos. Fui para festas. Morri de rir. Dancei. Beijei alguém. Gostei. Ouvi alguém tocar violão para mim. Adorei. Andei de carro sem ele, ouvi os CDs que eu costumava ouvir com ele sem ele, fui aos velhos lugares sem ele... aprendi a viver sem ele e, com um susto enorme, descobri que não faz a menor falta.

Aprendi que não adianta a gente lutar contra os dias que estão por vir, as dores que eles trarão e a cura a qual teremos que buscar. Essas são as consequências de se estar vivo e, por mais que às vezes doa, é preciso encarar as coisas com bom humor e otimismo, porque tudo passa, tudo sempre vai passar, seja bom ou ruim, seja grande ou pequeno.

Eu pensei que fosse morrer... e estou mais vivo do que jamais estive.

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