sexta-feira, 11 de maio de 2012

Poeira

Eram duas horas da tarde de um dia útil quando o telefone vibrou sobre a mesinha, tocando aquela música de que tanto gosto, e eu não prestei muita atenção no número de algum telefone fixo que o visor exibia, antes de atender.
A voz entrou e fez várias curvas no meu cérebro, tentando encontrar um nome, um rosto, algo que me fizesse saber de quem vinha aquele alô, tão familiar e tão estranho, como se viesse de outra vida, de outro planeta, em outra galáxia, em algum universo paralelo e impossível.

O tempo é uma coisa engraçada. Nada nem ninguém pode pará-lo, a gente tem que aceitar isso, e de repente uma voz consegue parar seu tempo em uma fração de segundos tão grande que você mal consegue respirar. A poeira dançando na luz que entra pela janela congela, e você se pergunta se o resto do mundo também sentiu essa freada brusca, esse tranco, essa sensação de ter caído em um completo vácuo e tentar gritar mas saber que sua voz não vai se propagar no nada por mais que você tente emitir algum som, algum pedido de socorro, algum pedido de perdão.

Tudo por uma simples voz, vinda de algum lugar do tempo em que você não pode mais estar, nunca mais poderá, porque é assim que as coisas são, a gente deixa muita coisa pra trás e depois fica se perguntando em qual ponto exato desta linha de tempo a gente deixou tudo cair das nossas mãos, tão fracas, tão brancas, tão cansadas de tentar se segurar a uma linha fina e cortante.

Que força é essa capaz de tirar a gente da gente, de fazer a mente morrer e nascer em tão pouco tempo, que força é essa que muda o magnetismo dos nossos polos, faz a gente perder o Norte, faz o chão estremecer e abrir-se em um buraco negro que suga a gente para tão longe e depois cospe a gente com tanta violência para o agora, para a realidade, para as duas horas da tarde de um dia útil de maio, que força é essa que abre páginas e queima capítulos, que faz a gente querer ser minúsculo, do tamanho de um grão de poeira dançante que agora está parado, e que se transforma em um desejo de ser enorme, do tamanho do mundo, que agora está parado também... que força é essa?

Como um suspiro de quem suga a vida de volta pra dentro, com tanta ânsia, com tanta sede, o mundo voltou a girar, bem devagar como quem está acordando, retomando a consciência, aquela fração de segundo empoeirada e anestésica se desmancha e a poeira retoma seu curso em direção a quê, afinal? Tudo se reconstitui, era uma voz, era apenas uma voz, de um garoto, em uma galáxia empoeirada e distante.

As coisas que a gente mais quer mudar são exatamente aquelas que serão sempre as mesmas.

4 comentários:

Adna Martins disse...

Cara, gosto muito de ti, sinceramente. Porque tens esse "quê" de inteiro, de verdadeiro, sabe. Te mostras, te expões, te revelas. E é toda esta intensidade que te leva por caminhos que causam o efeito da tua escrita. Eu disse que sempre estaria aqui, lendo você, e estou. É bom pra mim.

"Que força é essa (ein) capaz de tirar a gente da gente?"

... PERFEITO! PERFEITO.

Unknown disse...

Que encanto, Bruno. Simplesmente tirou meu fôlego. Esse questionamento que a gente faz pra gente mesmo e que nem sempre conseguimos respostas. Quando estamos pronto e ao mesmo tempo temos medo de enfrentar. O que importa a voz? Se lá no fundo eu queria que fosse aquele que me tirava de mim?

Adorei os seus outros textos... Seguirei para estar aqui mais vez. Um beijo.

http://eppifania.blogspot.com/

Unknown disse...

Oi, oi, oi. Sou nova por aqui. Na verdade, no seu blog. No meu, estou me reencontrando, voltando. É tão bom, deixar a escritar me manter viva novamente. Mas bem, o que estou a tagarelar, se mal o conheço? Deixe que eu vá direto ao assunto.
Seu texto.. Muito belo, guri. Tocante e bonito, sabe? Daqueles textos que a gente lê diversas e diversas vezes. Que faz a gente refletir e parar para pensar um pouquinho na vida, tirar alguns minutinhos do precioso tempo para ter tal atitude. Aliás... Tempo, tempo... Tempo. Amigo de uns, inimigo de outros. Causador de dúvidas. De medos. Em mim, em você, em todos nós, você não acha?
Novamente, repito: lindas palavras. Seu blog é um encanto, Bruno! Aparecerei mais vezes por aqui, agora que voltei. Procuro textos tão bons quantos os seus para me distrair, é por isso que estou por aqui.
Um grande abraço, @pequenatiss.

Suelen Muniz disse...

"As coisas que a gente mais quer mudar são exatamente aquelas que serão sempre as mesmas."
Ameiiiiii essa frase,parabéns pelo blog,muito bonito aqui!
Porque a gente quer tanto as mudanças,vive atrás de algo que mude quando na verdade tudo o que a gente quer é se encontrar!
uma ótima semana,abraço,=)

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