sexta-feira, 4 de maio de 2012

Debaixo da Pele

Quando você quer algo com tanta intensidade que dói e, de repente, você o perde. Quando você ama com tanta força que se cansa, e então se decepciona. Quando aquilo que você mais precisa é exatamente aquilo que te destrói aos poucos. Ninguém nos disse como lidar com isso. Mas a verdade é que estamos expostos a vários tipos de danos, o tempo todo, durante toda a vida. Podemos nos cortar ou nos queimar. Corremos o risco de perder nossos sentidos. Alguns de nós ficam loucos. Nossa mente tem uma conexão direta com nossa pele e ferir-se é consequência de estar vivo - nem mesmo o mais forte de nós está isento disso.

O problema é que quanto maior for uma ferida, quanto mais dor ela causar, maior a nossa vontade de escondê-la. Não queremos aceitar, então a escondemos, apesar da dor que mal nos deixa dormir à noite, apesar da energia que ela consome, fingimos que ela não existe. E ela dói, e sangra e uma hora a gente não consegue mais suportar. Por mais escondidos que estejam alguns cortes, mais cedo ou mais tarde será impossível disfarçar.

Passamos tempo demais negando uma ferida e enquanto isso ela inflama. Todos os nossos valores são esquecidos e a gente profere palavras pontiagudas, incendiamos lugares mentalmente, desejamos a morte, desejamos morrer. É o efeito colateral de toda ferida que não foi permitida curar-se: ardemos em febre e deliramos as vinganças mais diabólicas. Queremos ferir de volta, expor a nossa dor para o mundo inteiro ver e unir-se a nós contra quem nos feriu.

Demora para que a gente perceba que algumas feridas não irão se curar sozinhas, e que só dependem da gente. Escondê-las é adiar o inevitável: uma hora será necessário encará-las. Porque você pode fingir que elas não existem por quanto tempo achar necessário, negá-las para si mesmo e para o resto do mundo. Mas quando você pensar que elas se curaram e que são apenas cicatrizes, descobrirá que ainda estão ali.

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