terça-feira, 29 de maio de 2012

Escrevi e mandei


Sabe aquela história do "escrevi mas não mandei"? Aquela mensagem que fica gritando no fundo do seu cérebro enquanto você tenta fazer outras coisas mais úteis e você a digita para se livrar dela, mas não manda de fato, para evitar o turbilhão de consequências que ela pode desencadear? Bom, digamos que eu mandei.

Não vou dizer que mandei aquela mensagem despretensiosamente, só por mandar. A gente não faz uma coisa dessas, não se desafia assim, não injeta mais adrenalina no sangue do que acha que pode produzir, não se joga de cabeça na água gelada, se a gente não achar que vai valer a pena, que a gente vai ter uma resposta positiva e que tudo ficará bem. Existe esse sentimento estúpido e delicioso, como uma rebeldia da alma: a esperança. Esse buraco microscópico no muro que deixa uma frestinha de luz entrar. A esperança é esse pequeno empurrãozinho... esse MALDITO empurrãozinho que faz você rolar ladeira abaixo e se quebrar todo.

A mensagem era simples, no geral. Nada meloso demais, nada depressivo demais. "Me liga se quiser sair pra conversar um dia, não quero mais essa mágoa entre a gente, sinto falta da sua amizade mas não vou mais te procurar porque não quero ser insistente, então tá na sua mão." Mais ou menos isso.

A gente tenta, eu sei, todo mundo já passou por isso. Todo mundo já se sentiu a ponto de explodir se não fizesse algo, se não saísse da inércia por alguns minutos, do "deixa rolar", do "se for pra ser, será". Nada pode ser mais irritante do que isso, esperar que a vida, o Universo, Deus, Santo Antônio, a mãe Tereza ou, quem quer que seja, resolva sua vida, como se você não fosse o autor dela, o protagonista e diretor da sua própria existência. De vez em quando eu pego meu violão, desafinado mesmo, e começo a tocar acordes aleatórios só pra sentir que eu estou tirando música de algo, fazendo o ar vibrar e produzir algum som diferente do silêncio de costume, só pra ter certeza de que de vez em quando dá pra romper um ciclo de mesmice, nem que seja com um violão desafinado. De vez em quando eu pego meu celular e mando mensagens para ele, pra tentar quebrar essa parede imensa que ficou entre a gente por tão pouco, por coisas que foram ditas e feitas no momento do mais puro sofrimento e raiva.

Mandei essa mensagem e minha cabeça deu várias voltas. Toda vez que o celular vibra eu dou um pulo, saio do corpo, entro em alfa, meu coração pula uma batida, tudo isso na fração de segundos que antecede o ato triste de pegar o celular e ver que não foi ele. Nunca é ele. É sempre uma tela sensível ao toque - a mais insensível de todas - mostrando o horário pra me fazer lembrar que talvez seja tarde pra tentar algo que não deu certo nem quando tinha que dar, e o nível da bateria - um lembrete cruel de que minha paciência também está se esgotando.

Como eu queria poder mudar certas coisas, entender por que é que ele tem tanta resistência em falar comigo, mesmo eu não tendo feito nada demais, mesmo depois de tudo que a gente teve, e eu não tô falando de amor não, porque eu sei que amor acaba e deixa um rastro de sujeira pra trás, como um tsunami que chega de repente, assusta todo mundo, entra na vida das pessoas tirando tudo do lugar e depois vai embora, deixando dor e desordem por onde passa. Eu me refiro à amizade que a gente teve, mesmo. Àquela vez em que eu abracei ele no carro e chorei no ombro dele, com a cara enterrada na camiseta rosa com cheirinho de limpa, por um motivo que era só meu. Às nossas risadas e cumplicidade. À tanta coisa que ainda parece viva e nítida pra mim, mas que pelo jeito não tiveram tanto valor assim pra ele. Como eu queria poder entender isso: pra onde vão todas essas memórias e todos esses sentimentos? Como é possível alguém esquecer tudo isso, vomitar tudo, fingir tão bem que nunca aconteceu que de fato deixa de existir no tempo? Como pode algo continuar tão vivo dentro de mim, como uma estrela que não tem a menor intenção de explodir, enquanto pra ele ficou tudo em um universo paralelo que implodiu e se transformou em uma rocha cinza, fria, do tamanho de um grão de areia?

Até agora eu não obtive nenhuma resposta. Nem dessas perguntas, nem da mensagem que eu mandei. Mas a mensagem que eu gostaria de deixar no final deste texto não é pessimista. O que eu realmente gostaria de dizer pra todo mundo que está lendo isso aqui, e que escreve mas não manda, é: mande! Arrisque até sua última ficha. Se tem algo gritando no fundo do seu cérebro, significa que precisa ser dito ou feito o quanto antes.

Às vezes a resposta não é a esperada. Às vezes sequer existe uma resposta. E dói - o silêncio, a tela com o horário e o nível da bateria, o desprezo. A indiferença. É como um daqueles sonhos em que você quer correr e gritar mas não consegue sair do lugar, por mais que mova suas pernas, e nem emitir sons, mesmo que seus pulmões estejam quase explodindo por tentar gritar. A indiferença sufoca, desespera, "claustrofoba", dói. Dói.

Mas, se você não fizer nada, algum dia vai descobrir que ficar parado e não saber como teria sido se... (e esse "se..." deixa muita gente louca), dói mais ainda.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Como eu queria poder entender isso: pra onde vão todas essas memórias e todos esses sentimentos? Como é possível alguém esquecer tudo isso, vomitar tudo, fingir tão bem que nunca aconteceu que de fato deixa de existir no tempo?"

Verdade mais verdadeira desse texto.

Fabiana disse...

Olá! Estes últimos 20 dias tem sido um turbilhão de emoções, de coisas do passado que voltaram com força total em minha vida e estão me fazendo muito mal. Coisas do coração. Escrevi um email para colocar tudo o que deveria ter dito e não disse e só hoje percebo como a mágoa me fez mal. Escrevi e ainda não mandei, pois estava com dúvida: Mandar ou não mandar, eis a questão. Foi quando achei seu blog e esse post, que me animou a mandar sim. Não escrevo nada de mais, mas são coisas que preciso tirar de dentro de mim, mesmo que não haja resposta. Gostei muito do seu texto e vou ler várias vezes. =)

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