sábado, 26 de maio de 2012

Borboletas Mortas



Quando você foi, daquela maneira tão triste e violenta, ficou um vazio. Eu tive que te arrancar de dentro de mim com tanta força, que um pedaço meu foi junto. Eu virei pedra.

Eu aprendi a guardar certas coisas dentro de mim, bem lá no fundo, onde ninguém consegue ver ou tocar, a jogar no lado seguro da vida, a ser feliz com o que eu tenho hoje e não com memórias velhas de coisas que nem aconteceram, coisas que eu criei em minha mente um dia para fingir que tudo estava bem. Eu me tornei maior, mais forte e mais sóbrio. Às vezes um pouco mais sério e frio do que eu gostaria, mas são só os efeitos colaterais de se enterrar dentro de si mesmo.

Só que, de vez em quando, você aparece nos meus sonhos, os transforma em pesadelos, e eu não posso dizer com certeza mas acho que eu paro de respirar por alguns segundos na minha cama, porque eu sempre acordo com essa pressão enorme no peito e essa sensação de afogamento. É possível se afogar dentro da gente? Eu te enterrei na parte mais escura da minha memória, no inconsciente, no outra-vida-outro-lugar, mas de vez em quando você teima em aparecer, em mostrar teu rosto - todos esses traços incoerentes e exóticos e lindos - que eu tenho lutado tanto pra esquecer. Mas esses sonhos nunca são bons, eles duram uma eternidade, um filme inteiro, um romance ruim de mil páginas, têm começo-meio-e-fim, e geralmente acabam com você me traindo e eu volto a experimentar aquela sensação horrível de ter alguém esmagando seu coração com os dedos.

Por sua causa, eu aprendi a boicotar meus sentimentos. Aprendi a me distanciar de tudo aquilo que pode me tocar mais profundamente do que na pele. A evitar mudanças súbitas de temperatura interna. Matei todas as borboletas no meu estômago. Aprendi a fechar os olhos quando descubro que o rosto de alguém consegue provocar mudanças climáticas tão grandes dentro de mim que preocupariam o Greenpeace.

Eu só não aprendi, até hoje, a lidar com toda essa bagunça que você deixou dentro e fora de mim.



Mas em toda a história, é nossa obrigação
Saber seguir em frente, seja lá qual direção.
Eu sei. 
(Assinado Eu - Tiê)


3 comentários:

Anônimo disse...

Ainda. Mas o tempo vai arrumar essa bagunça, climatizar sua alma e varrer o cadáver das borboletas pro lixo. :)

Adna Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adna Martins disse...

Você pode ter aprendido a boicotar seus sentimentos, a se distanciar do que pode te tocar profundamente. Embora, não a nos fazer assim, porque cada palavrinha tua nos atinge intimamente e estampa em nosso rosto sensibilidade. E sabe o que isto significa, querido? Que podes até não perceber, mas, também, estais aprendendo a lidar com toda uma bagunça que irá te reformar.

Beijos!!!

Visitas