Do alto de nossos medos, podemos enxergar o fim iminente. É disso que temos mais medo na vida toda - do fim.
Tememos acordar em uma manhã e descobrir que algo foi arrancado com um golpe grande, deixando apenas um grande silêncio em um pedaço da nossa existência. Mas nada dura para sempre. E com o fim, vem a dor. Como sobreviver a ela? Como passar pelas lembranças mais insignificantes sem sentir que a atmosfera está desaparecendo?
Ignoramos a dor na equação dos nossos planos, e sofremos. Porque é algo inevitável. O tempo acaba, o amor acaba. Restam apenas os pedaços que somos obrigados a carregar por um longo caminho até encontrarmos um novo começo, um ponto de partida incerto, movediço. Porque as pessoas mudam, os ambientes adaptam-se, as cores desbotam, as notas musicais se calam.
Estamos todos expostos à dor, a noites em claro sentindo a pressão sobre nossas cabeças aumentar a cada respiração, a cada segundo que um telefone não toca, a cada toque que não acontecerá novamente, a cada momento que desejamos esquecer tanto quanto queremos nos lembrar para sempre.
Mas nos esquecemos do mais óbvio: se tudo tem um fim, se nada foi feito para durar para sempre, a dor também não dura.
Dor é medida em tempo, e leva esse tempo até compreendermos que não há muito o que se pode fazer além de abandonar esses cacos pontiagudos e erguer a cabeça, deixar que as lágrimas sequem a dor e que, por fim, o sol seque as lágrimas.
Porque mudamos na dor. Crescemos. Reagimos ao frio aprendendo a nos aquecer sozinhos, a passar por ele. Precisamos da dor para sobreviver.
Assim, tudo o que vivemos hoje, um dia serão apenas lembranças - eternas, essas sim são eternas, às vezes quase vivas. Mas cabe a nós encontrar uma maneira de lidar com cada uma delas, com o fim remetido a elas, e entender que foram todos esses fins que nos fizeram chegar até aqui.