quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Corra!

Faça o que tem de fazer, e então corra. Os dias são curtos e a vida é longa, então corra. Pega o que ficou no chão. Deita a cabeça em um travesseiro macio. Respira fundo e, quando o sol nascer, a luz vai entrar aos poucos, lamber os seus olhos, penetrar em seus poros, sangrar suas feridas. Corra porque não há muito tempo, vê?

O planeta está dando voltas ao redor de si mesmo e ao redor do sol em uma velocidade tão grande que arrancaria nossas cabeças se conseguíssemos senti-la. E talvez seja por isso que perdemos nossas cabeças o tempo todo, que nos perdemos tão rapidamente, que nos dissolvemos dentro de nós mesmos como partículas minúsculas de vida que se oxidam com o tempo.

As ruas estão cheias de pessoas que correm, pássaros e cães, carros e sapatos. Levamos conosco o que podemos, o que conseguimos carregar. Nossos pesos, nossas dores, nossos corações, nossos cérebros embebidos em sangue e memórias. Lá em cima, absorvendo o que transpiramos, as nuvens se condensam umas nas outras e correm pelo azul infinito - que às vezes é cinza, às vezes é rosa, às vezes é nada.

Corra porque as mentiras se transformam em borrões quando você corre. Não há tempo para olhar para elas, de qualquer forma. Engula cada uma delas como comprimidos, absorva a medicina contida nelas - placebos que nos fazem resistir ao tédio. Corra porque você já tem mais de vinte anos, e logo terá mais de trinta. Corra porque seu corpo não aguentará muito tempo parado, tendo de lidar com sua própria carga.

Sua coluna vertebral se entortou enquanto você olhava para o tempo, sentado diante de tudo que sequer existe: todas essas palavras, todas essas pessoas, todos esses sorrisos e conquistas e beijos de amor que não duraram nem o tempo de um pensamento. Suas pernas ficaram fracas, seu coração se partiu em cacos, seus pulmões estão queimados, seu cérebro implodiu. Se ao menos você tivesse corrido. Se não tivesse ficado aqui para ver tudo ir aos ares. Se ao menos você tivesse fugido.

Quando esse dia terminar, do que você sentirá falta? O que fará seu coração doer? Quais promessas e barganhas você fará ao universo? Quantas fantasias você criará, só para ter o prazer de despedaçá-las como pétalas secas mais tarde? Do que você desejará correr?

Vai doer como o inferno, então corra, sem olhar para trás. Pegue tudo o que conseguir e corra. Corra o mais rápido que puder. Corra como o tempo, como o vento, corra como se fosse salvar sua vida.

E, então, pule.

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