quinta-feira, 10 de julho de 2014

Quem diria?

Quando eu estava na sexta série e alguém me perguntava o que eu queria ser quando crescesse, a resposta estava na ponta da língua: "quero ser veterinário". Anos depois eu encontrei o meu primeiro amor. E era claro o que eu esperava: "nós vamos ficar juntos para sempre". Era o que eu dizia para meus amigos, com quem eu também pensei que teria contato para o resto da vida. O que aconteceu nos próximos anos? Eu decidi que queria ser jornalista, depois publicitário, depois biólogo, e então, escritor. Obviamente, meu primeiro e eterno amor não durou mais do que alguns meses. E meus amigos seguiram suas vidas. Nada saiu como eu esperava.

Todos nós fazemos planos para o futuro mas, entre um plano e outro, existem lacunas que ninguém sabe como preencher. Você sabe que vai sair de casa às oito, pegar o ônibus, ir trabalhar. Mas você sabe, de alguma forma, o que vai acontecer no caminho para o trabalho? Quem você vai encontrar, que tipo de coisas vai ver e ouvir, quantas emoções vai sentir? Para preencher essas lacunas, sobra para aquilo que gostamos de chamar de acaso. E o acaso é o pai do imprevisto.

Poucas coisas nessa vida podem ser planejadas às cegas. Gostamos de pensar que temos o futuro traçado em um cronograma infalível, mas nunca é assim. Porque a vida não é uma linha reta; ela é cheia de curvas e, ao fazer cada uma delas, você não sabe o que vai encontrar no outro lado. Você freia cautelosamente, vira confiante e, de repente, o cenário é outro, com elementos que você não havia imaginado encontrar.

Em meio ao inesperado, pessoas se acidentam e morrem, times aparentemente promissores são eliminados em goleadas quase sobrenaturais, relacionamentos de anos se rompem, confianças são quebradas, castelos ruem, pessoas sãs enlouquecem. De repente, você está vivendo uma vida que jamais imaginou que seria sua.

E o que nos resta fazer diante do inesperado? Nossos grandes amigos hoje podem ser nossos piores inimigos amanhã. Os amores que construímos com tanto empenho podem se transformar em mágoa. O emprego dos sonhos pode se revelar um grande pesadelo.

Quando a vida sucumbe ao inesperável, há duas opções. Você pode tentar lutar contra ele, fazer com que sua vida volte a ser o que era antes, remendar os cacos causados pelo acidente. Talvez isso dê certo, se você souber exatamente onde foi que as coisas começaram a mudar - e essa é a parte mais difícil do processo. Nem sempre funciona.

Ou, há a opção que todos nós acabamos seguindo, de uma forma ou de outra: entender que imprevistos acontecem e que, além disso, eles nos transformam. Mudam como olhamos para as outras pessoas e para nós mesmos; revelam caminhos alternativos para destinos mais brilhantes; nos forçam a procurar esperanças onde parecia não haver nenhuma. É o inesperado que muda nossas vidas. E, no final das contas, a gente acaba entendendo que a vida é, em si, um grande acidente, e que o resto nada mais é do que consequência de se estar vivo.

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