terça-feira, 7 de maio de 2013

Caos


Há uma guerra acontecendo dentro de mim entre o que é certo e o que é errado, entre o que é real e o que é insano, entre o que faz sentido e o inexplicado. Há um milhão de palavras que eu não consigo decifrar, mas que precisam ser ditas de alguma forma, gritadas, expulsas de um sistema circulatório que não foi feito para abrigá-las.

Há caos vibrando em cada molécula que me forma, fazendo com que minhas mãos e pernas tremam sem explicação. Meu coração bate tão rápido que parece que vai explodir e eu acumulo tanta energia dentro de mim que poderia acender uma lâmpada. Mesmo assim parece inútil qualquer esforço que envolva discar um número, abrir minha boca, deixar sair todas as palavras que eu queria te dizer mas que não posso, por motivos tão óbvios que chegam a ser humilhantes.

Você me assusta quando aparece do nada, seu formato queima minha retina e eu fico cego momentaneamente. Você nunca avisa quando vai chegar, assim como nunca avisou que iria embora tão cedo. Me pega de surpresa e eu não sei para onde correr, e eu acabo optando pelo caos, pela loucura de acreditar que o telefone vai tocar, que eu vou te ver, que o mundo vai parar de acabar dentro de mim um pouquinho todos os dias.

Um dia pode ser que eu entenda todas essas decisões tomadas de última hora, e também as que vieram se formando com o tempo que passamos juntos. Eu já acredito em muita coisa. Acredito que cheguei a um ponto em que nada vai voltar a ser como era. Que você é outra pessoa, bem melhor sem mim. Acredito que seus olhos procuram coisas novas, assim como sua língua, seu tato, todo o resto do seu corpo. Acredito que eu vou sair dessa uma hora, já estou quase inteiro para fora, consegue ver?, só falta tirar essa poeira do corpo, trocar de roupa, colocar o celular no mudo e conseguir dormir uma noite inteira sem sonhar com você, e serei outra pessoa, tão melhor quanto você, tão faminto por novas paisagens quanto você. Acredito que não falta muito.

Faz frio nessa cidade como fez ano passado, como faz todos os anos. É a lei das estações e vai ser para sempre assim, até que uma força muito grande ou, talvez, muito pequena, consiga mudar isso. Ninguém está imune ao frio, nem mesmo eu, que quis tanto que ele não chegasse para que não trouxesse de volta todas aquelas memórias, aquelas ruas, aquela visão fria e morta da janela da sua sala.

Ninguém está imune às mudanças, e ninguém está imune ao caos. Um dia, talvez, eu consiga encontrar alguma ordem nele, algum padrão aparentemente indecifrável. Talvez, então, minhas mãos parem de tremer inexplicavelmente em uma tarde de terça-feira, e você deixe de ser a cura temporária e a certeza mais incerta que eu cultivo dentro de mim.

Mas enquanto isso, eu continuo observando as tardes, as palavras, os medos e o caos.

Nenhum comentário:

Visitas