sábado, 29 de outubro de 2011
Sobre várias perdas e alguns ganhos*
"Tocar no passado requer cuidado, porque o passado machuca. Porque o passado não é apenas um tempo, uma conjugação verbal, um "eu era", ou "eu estava" ou "eu gostava, amava, acreditava". Não é apenas olhar para o calendário no dia 06 de fevereiro, fazer um círculo em volta da data e dizer Certo, isso aqui é o passado.
[...]
Eu podia sentir o cheiro do fim, o gosto do fim, a textura do fim, podia sentir o fim se revirando em meu estômago, estourando minhas hemáceas, se alimentando do meu sangue. Eu podia sentir as mãos frias do fim me acordando no meio da noite, apertando a minha garganta, fazendo com que eu me encolhesse na cama e chorasse como uma criança, como alguém que perdeu um ente querido, como alguém que perdeu um membro importante mas que ainda pudesse sentí-lo ali mesmo que não estivesse ali de fato, um membro-fantasma, um presente e um futuro que estavam prestes a se transformar em um passado.
E ele se transformou, sim. [...] E então eu percebi que o chão não ia sumir, que o mundo não ia acabar, que eu não ia morrer. Não, era muito pior do que isso tudo: eu ia sobreviver, com o chão ali pra eu pisar todas as manhãs, com o mundo ali para que eu encarasse girando e mudando e seguindo em frente, com a vida ali para que eu a aceitasse exatamente como ela era, sem Diogo, sem amor, sem amigos, sem esperança, sem vontade, sem sabor, sem luz, sem ar, sem saída. A gente pensa que vai morrer, mas não é tão fácil assim, a vida não deixa tão barato. A vida faz você encarar as consequencias de coisas que você fez, mesmo sem ter a intenção de fazer errado."
*Este é um trecho de algo que escrevi há um ano, no dia 27 de outubro de 2010, mais precisamente às 02:44 da manhã. Estava fuçando nos meus arquivos antigos e achei isso. É claro que não postarei o texto inteiro, além de ser grande tem um significado só pra mim, ninguém vai querer ler as outras baboseiras que estão escritas. Postei apenas este trecho aqui porque fiquei surpreso com como as coisas podem mudar e continuar iguais ao mesmo tempo, passe o tempo que passar.
Claro que não estou me referindo à mesma pessoa, citada no texto. Esse é um passado que eu superei, minha vida está em outra fase agora. Mas é incrível como meus medos são exatamente os mesmos, é incrível como o tempo é algo completamente relativo. Um ano. Pra mim não passou nenhum minuto.
sábado, 22 de outubro de 2011
"All We Can do is Keep Breathing"*
Todas as pessoas que querem nosso bem querem nos ver lutar por algo. Nossos pais querem nos ver lutando por um futuro. Nossos amigos querem que lutemos pela felicidade.
Lutar é humano, ou mais do que isso -- é biológico. Estamos lutando pela nossa sobrevivência o tempo todo.
Mas, às vezes, lutar exige forças que você descobre que não tem. Exige um tempo que você não tem a perder.
E, às vezes, alguns tipos de lutas são mais do que podemos suportar. Porque são lutas contra nossa própria mente. Contra nossos fantasmas e medos. Contra nosso cérebro e nossos nervos. Contra nosso presente, nosso futuro e, principalmente, contra nosso passado. É difícil lutar quando nosso objeto de luta somos nós mesmos. Porque lutar nem sempre significa ganhar. Muitas vezes, lutar significa perder algo, abrir mão de caminhos, de pedaços daquilo que compõe o que somos. Às vezes, lutar contra uma dor significa encontrar outras. Significa arranjar feridas incuráveis e cicatrizes eternas. Significa sofrer amputações necessárias e dolorosas.
Então simplesmente nos deitamos para observar o sol nascer e se pôr, sem lutar por nada. Deixamos que a correnteza nos afunde na água fria de um oceano de dúvidas, inseguranças e medos. Essa, às vezes, é uma boa forma de lutar: deixando estar. Porque, querendo ou não, estamos lutando por nós mesmos e pela vida enquanto estamos respirando.
*(O título é um trecho da canção "Keep Breathing", de Ingrid Michaelson)
Lutar é humano, ou mais do que isso -- é biológico. Estamos lutando pela nossa sobrevivência o tempo todo.
Mas, às vezes, lutar exige forças que você descobre que não tem. Exige um tempo que você não tem a perder.
E, às vezes, alguns tipos de lutas são mais do que podemos suportar. Porque são lutas contra nossa própria mente. Contra nossos fantasmas e medos. Contra nosso cérebro e nossos nervos. Contra nosso presente, nosso futuro e, principalmente, contra nosso passado. É difícil lutar quando nosso objeto de luta somos nós mesmos. Porque lutar nem sempre significa ganhar. Muitas vezes, lutar significa perder algo, abrir mão de caminhos, de pedaços daquilo que compõe o que somos. Às vezes, lutar contra uma dor significa encontrar outras. Significa arranjar feridas incuráveis e cicatrizes eternas. Significa sofrer amputações necessárias e dolorosas.
Então simplesmente nos deitamos para observar o sol nascer e se pôr, sem lutar por nada. Deixamos que a correnteza nos afunde na água fria de um oceano de dúvidas, inseguranças e medos. Essa, às vezes, é uma boa forma de lutar: deixando estar. Porque, querendo ou não, estamos lutando por nós mesmos e pela vida enquanto estamos respirando.
*(O título é um trecho da canção "Keep Breathing", de Ingrid Michaelson)
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